Arvo Pärt premiado pela Fundação BBVA em Espanha

Compositor estoniano foi distinguido com o Prémio Fronteiras do Conhecimento pelo seu “universo sonoro único”.

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Arvo Pärt DR

O compositor estoniano Arvo Pärt (n. Paide, 1935) foi distinguido esta terça-feira em Espanha com o Prémio Fronteiras do Conhecimento da Fundação BBVA, na área da Música e da Ópera.

O júri deste prémio, que começou a ser atribuído em 2008 pela instituição bancária do país vizinho em oito diferentes áreas das artes, do conhecimento e da cooperação, justificou a distinção ao autor da Paixão Segundo S. Lucas pela criação do ‘tintinnabuli’ (termo latino que significa “pequenos sinos”). Novo estilo e nova gramática no universo da música contemporânea, esta é “uma linguagem original com que [Pärt] criou um universo sonoro único: uma nova aproximação à música espiritual, especialmente coral, que reduz a matéria do som àquilo que é essencial”, diz o júri no comunicado em que justifica o prémio. “A voz é essencial na sua obra, com um grande peso da palavra, na maior parte dos casos sobre textos litúrgicos ou orações”, acrescenta o comunicado.

Víctor García de Gomar, secretário do júri do prémio BBVA, citado pelo diário ABC, define o ‘tintinnabuli’ como “a invenção de uma gramática sonora inconfundível, que apresenta células repetitivas de uma certa contenção, acordes que se sobrepõem uns sobre os outros, de modo que cada mudança surge quase como um milagre, um som subtil que modifica a sua cor de forma a mudar o sentido do que estava a ser composto”.

Matriz católica

Arvo Pärt, o mais conhecido compositor da Estónia, nasceu em 1935, uma década antes de o seu país ter sido integrado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Estudou piano, flauta, oboé e percussão antes de se virar para a composição, tendo-se licenciado em 1963 com a composição de uma primeira Sinfonia, quanto ainda trabalhava como engenheiro de som na rádio estatal estoniana.

Com a obra Credo, em 1968, inquietou o regime soviético com a matriz católica da sua música. E, no início da década de 1980, Pärt emigrou com a sua família para o Ocidente, tendo vivido na Alemanha e depois tendo-se radicado na Áustria. Foi depois convidado pelo Vaticano a integrar o Conselho Pontifício da Cultura.

“A obra e o pensamento [de Arvo Pärt] têm atravessado várias etapas estilísticas e de linguagem até desaguar, na tradição do diatonismo e modalismo antigos, num estilo hierático, místico, litúrgico. O carácter neutro da harmonia neotonal cria no ouvinte esse conforto de estados hipnóticos, místicos e envolventes na esteira longínqua das liturgias musicais. Ausência de tensão, de conflito, de oposições, essência do repetitivismo e do minimalismo: modal, anti‐serial ou misto”, escreveu o compositor Cândido Lima no programa de apresentação de uma obra do estoniano na Casa da Música, em 2012. Uma “música cinematográfica”, que associou à obra de um Terry Riley ou um Steve Reich, como à pintura de um Malevitch ou de um Mondrian.

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