Especialista diz que mudança da hora aumenta risco de infecção
Desequilíbrio no sistema imunitário, maior risco de infecção e aumento da probabilidade de enfarte. A mudança da hora, agendada para a próxima madrugada, pode ter efeitos na saúde relacionados com o confinamento obrigatório.
A mudança da hora aumenta o risco de infecção com covid-19. Quem o diz é o presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, que advertiu que os efeitos potencialmente adversos causados pela mudança da hora podem acentuar-se devido ao confinamento obrigatório das pessoas.
O alerta de Miguel Meira Cruz, também director do Centro Europeu do Sono, surge na véspera da mudança para o horário de verão, que acontece na madrugada deste domingo, e pretende enfatizar “o risco que as alterações dos ritmos biológicos e do sono têm no desequilíbrio do sistema imunitário e no risco de infecção”.
“Dormir bem, suficiente e a horas certas constituem medidas importantes para um aumento da imunidade e prevenção da doença”, defendeu à Lusa o coordenador da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Faculdade de Medicina.
O investigador adiantou que “o surto do novo coronavírus que alarmou o mundo durante o último mês reforçou a importância de um aspecto essencial da vida e da prevenção em saúde pública e comunitária: os ritmos biológicos, nomeadamente o ritmo sono-vigília”.
Meira Cruz e Masaaki Miyazawa, imunologista e director da Escola de Ciências Médicas da Universidade de Kindai, no Japão, estão a analisar as interacções que podem surgir entre o sistema temporal circadiano, o sistema imunitário, a fisiologia do sono e o desenvolvimento e propagação da doença covid-19.
“É indiscutível a importância que assume um relógio interno, mas este, como qualquer outro relógio que nos pretenda antecipar acontecimentos, tem de estar certo e coincidir com a realidade (neste caso, a realidade solar parece ser a mais fiel)”, defendeu.
Neste contexto, alertou para os “riscos do desalinhamento horário” que surgem após a mudança da hora, sobretudo para o horário de verão, e que se traduzem num risco aumentado de enfarte na semana após a mudança.
“Mudar a hora tem sempre um diferencial negativo face à passagem de fusos horários: é que quando mudamos de fuso horário durante uma viagem, o sol acompanha essa mudança, e sendo o sol o nosso principal dador de tempo, mais fácil e rapidamente nos adaptamos ao local de chegada”, explicou.
“Esta é, aliás, uma preocupação actual, dado que, por motivos relacionados com a condição de emergência que atravessamos, as pessoas estão confinadas a um ambiente entre quatro paredes” e muitas delas com pouco acesso à luz natural, um dos principais reguladores do seu tempo interior”.
“No próximo domingo, para aumentar a confusão aos relógios, o horário vai mudar. Continuarão a existir as pessoas para as quais isso significará pouco e continuarão a existir aquelas para as quais isso é de suma importância”, disse, lamentando o facto de as consequências deste risco serem por vezes negligenciadas.