O coronavírus infectou o Governo britânico e ameaça ser uma avalanche

O primeiro-ministro britânico e os principais responsáveis pela Saúde do Reino Unido estão infectados. Já há mais de 14 mil casos, quase mais três mil que na quinta-feira - o número de infecções duplica a cada três ou quatro dias.

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O primeiro-ministro Boris Johnson e o ministro da Saúde, Matt Hancock, estão infectados Reuters/POOL New

Pode ser o início de uma avalanche: o Reino Unido registou a maior subida do número de mortos devido ao novo coronavírus pelo segundo dia consecutivo desde que a pandemia começou no país: 181, entre quinta e sexta-feira, perfazendo um total de 759. Os números foram conhecidos poucas horas depois de se saber que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o ministro da Saúde, Matt Hancock, e o director geral de Saúde, Chris Whitty, estão eles próprios infectados.

Os hospitais de Londres confrontam-se com um “tsunami contínuo” de casos e o mais provável é que alguns fiquem sobrecarregados já nos próximos dias, com as autoridades a tentarem travar a vaga transferindo enfermeiros de todo o país.

As infecções estão a duplicar a cada três ou quatro dias no Reino Unido, disse Michael Gove, o número dois do Governo britânico. Johnson ficará em isolamento na sua casa durante sete dias.

A subida do número de mortes desta sexta-feira foi a maior desde o início da pandemia no Reino Unido, quando foi detectado o primeiro caso, a 29 de Janeiro. No total, já morreram 759 pessoas e prevê-se que muitas mais morrerão até o se atingir o pico da epidemia no país. Foram realizados 113.777 testes, e 14.543 deram positivo. Estão apenas a ser testados profissionais de saúde e casos suspeitos. 

Estão a ser criados vários hospitais de campanha e, prevendo um grande aumento no número de vítimas mortais, está também a ser montada uma mortuária temporária para 1500 corpos no aeroporto de Birmingham. 

Johnson em casa

O primeiro elemento do Governo a quem foi diagnosticada a covid-19 foi a secretária de Estado da Saúde, Nadine Dorries, no início de Março, poucas horas depois de ter estado num evento em Downing Street para assinalar o Dia da Mulher - recuperou entretanto e já regressou ao trabalho. Johnson esteve presente, bem como outros membros do Governo. Mas não serão testados mais membros do executivo, disse Michael Gove. Só pessoas que sejam fundamentais para o esforço de controlo da pandemia e mostrem sintomas serão testadas, disse o ministro, citado pelo Guardian

Num vídeo divulgado no Twitter, Johnson anunciou que desenvolveu sintomas leves e que, por precaução, foi aconselhado a fazer o teste, tal como Hancock - o médico que os aconselhou também está infectado. Ambos ficarão em isolamento profiláctico e o chefe do executivo garantiu continuar a “chefiar a resposta do Governo por vídeoconferência”. “Juntos vamos derrotá-lo”, prometeu.

Há semanas que o coronavírus se está a espalhar entre os britânicos, em parte porque o executivo resistiu a avançar com medidas drásticas numa fase inicial, promovendo uma estratégia que passava por deixar que o vírus infectasse pelo menos 60% da população, para criar rapidamente imunidade de grupo. Foi obrigado a mudar de posição, mas perdeu tempo que era crucial. Os hospitais de Londres, a zona mais atingida pela pandemia, arriscam-se a ficar sobrelotados nos próximos dias. 

Risco de colapso

“Estão a lutar com uma explosão na procura de atendimento por pacientes graves. Falam de onda atrás de onda. As palavras que estão a usar é ‘tsunami contínuo'”, disse esta quinta-feira à BBC Chris Hopson, director do departamento que faz a ligação entre o Serviço Nacional de Saúde e o Ministério da Educação. “Como um profissional me disse, são números muito maiores ao que alguma vez imaginou”. 

Na semana passada, o hospital de Nothwick Park, em Londres, declarou um “incidente crítico” ao ficar sem espaço para acomodar pacientes com covid-19 e suficientes médicos para que fossem entubados e ligados a ventiladores. 

Perante o risco de colapso dos serviços, as autoridades vão transferir enfermeiros de todo o país para os hospitais londrinos e será pedido aos médicos que durmam por seis semanas no recém-construído Hospital de Nightingale, diz o Guardian. Além disso, garantem que os cuidados intensivos terão um total de 7500 camas até ao final de Abril (27 vezes mais que as 275 de antes da pandemia) e estão a explorar formas de saber se é possível que um mesmo ventilador sirva duas pessoas e não apenas uma, visto que apenas tem oito mil por todo o país - o Estado já encomendou outros oito mil. 

O Governo britânico já encomendou também 3,5 milhões de testes e pretende vir a comprar muitos mais, disse esta semana o ministro da Saúde. 

Mas há quem sugira outras alternativas: testes feitos em casa pelas próprias pessoas. A directora médica do Instituto de Saúde Pública de Inglaterra, Yvonne Doyle, disse a um painel de especialistas de saúde que testes feitos por picadas de agulhas, à semelhança dos usados para controlar a diabetes e detectando a existência de anticorpos, são uma alternativa viável e que espera estarem disponíveis em breve. Uma empresa está a trabalhar nesse projecto, que poderia servir para avaliar rapidamente se uma pessoa que teve a doença estaria apta a voltar ao trabalho. Em todo o mundo há uma corrida para fazer testes rápidos de despistagem do coronavírus - este é deles.

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