O que é que a juventude precisa do Governo

Não é muito, não é pouco. É o justo e quanto baste. Precisamos de unir todos os esforços para ultrapassar esta crise. O Estado precisa da juventude, mas a juventude precisa agora, mais do que nunca, do Estado. Não lhes falhemos.

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Miguel Manso

A covid-19 chegou para se instalar perto de nós e por tempo indeterminado. À distância de uma maçaneta de porta, do botão do elevador para chegar a casa, dos momentos de convívio com os amigos… Este perigo silencioso e invisível está à espreita e agarra todas as oportunidades que tem para nos dificultar a vida. Tolhe-nos os sonhos e as oportunidades e restringe-nos (algumas) liberdades, mas não a liberdade de pensar e, acima de tudo, não deve ser motivo para não sermos parte da solução.

Neste momento em que somos todos chamados a agir, a resposta das e dos jovens foi e tem sido um bom espelho do sentimento nacional. Inicialmente, alguns de nós e de forma desinformada, corremos para as praias e para as esplanadas. Hoje, conscientes e solidários com a situação do país, recolhemo-nos em casa e participamos em redes informais de apoio àqueles que estão mais vulneráveis. A juventude demonstra assim que é parte da solução e está pronta e alerta para ajudar. Das e dos jovens que distribuem comida ou a repõem nos supermercados, àqueles que mantêm as empresas no activo através do teletrabalho, aos que disponibilizam os seus serviços aos outros, aos que mantêm a moral nas redes sociais partilhando conteúdo importante e informando os seus pares e as suas famílias, aos que integram agora o serviços de saúde para reforçar a resposta a esta pandemia. Todas e todos e cada um à sua maneira temos arranjado forma de nos envolvermos, de nos mantermos ligados e trazer esperança.

 O Governo tem apresentado amiúde e faseadamente uma série de medidas para nos ir mantendo satisfeitos e expectantes nos momentos em que se dirige a nós, cidadãs e cidadãos. O que é certo é que uma série de situações de insegurança têm ameaçado o equilíbrio da sociedade, também nos jovens. Relatos de situações, por exemplo no emprego, de crescente precariedade, abusos na utilização do teletrabalho e do horário de trabalho e despedimentos são já demasiados, com impacto depois na dificuldade em pagar rendas, créditos à habitação e para formação. Também na educação surgem relatos de jovens sem acesso às ferramentas que lhes permitam aceder às aulas online, temendo assim o impacto no seu percurso de aprendizagem e na avaliação, e de professores que não estão à vontade com as novas tecnologias. Sobre aqueles que estão no estrangeiro, ao abrigo do programa Erasmus ou em trabalho ou turismo, os relatos de falta de apoio consular são também frequentes. 

E se a juventude faz parte da solução, também faz parte do problema e merece que o Governo tome medidas que atendam à especificidade dos desafios que enfrenta e que assuma um compromisso solidário com as novas gerações. O que precisa então a juventude do Governo? É simples.

1) Uma cura milagrosa para a covid-19.  Não nos enganemos: a cura médica está longe e por isso cuidar de quem cuida de nós terá tanto impacto agora e no futuro próximo quanto encontrá-la. É importante garantir que os estudantes e jovens profissionais que reforçam o nosso sistema de saúde e de resposta a esta crise têm acesso aos meios para se protegerem, têm acesso à informação e formação adequada para o contexto e que é respeitado o seu período de descanso. Isto é crucial para que possamos vencer esta batalha. A par das e dos jovens profissionais de saúde, aqueles que trabalham em indústrias que estão sobre enorme pressão como a indústria alimentar e de distribuição, devem também ser uma prioridade.

2) Um remédio para nossa economia. A estratégia para manter o emprego tem sido uma aposta importante do Governo, mas pouco clara. As e os jovens em início de carreira estão isentos da contribuição para a Segurança Social, resta saber se poderão, agora em situação de desemprego, beneficiar do subsídio extraordinário anunciado para trabalhadores independentes. E para os jovens empreendedores que asseguram também eles emprego? Que medidas? E para os jovens em profissões liberais ou em regime de recibos verdes? Sem esquecer, claro, o importante sinal de credibilidade e boa-fé que o Banco de Portugal pode também dar, ao conceder moratórias nos créditos à habitação e à formação.

3) Um placebo para a estabilidade da nossa vida em sociedade. Esta crise sanitária foi para muitos pais um abre-olhos em relação a todo o trabalho que é desenvolvido nas escolas pelos professores e isso por si só, quando tivermos tempo para reflectir, trará com certeza novas opiniões e novas formas de estar. Mas por agora temos de garantir que a educação continua. E ela só pode continuar se existirem meios em casa para tal, garantindo assim a equidade no acesso à educação. Este desafio precisa de propostas concretas para ontem. A par disso, as preocupações dos estudantes do ensino secundário e universitário quanto à sua avaliação merecem também mais respostas por parte do Governo e das instituições de ensino.

4) Uma aposta na nossa democracia. Ao garantir que continuamos a ter espaço para intervir e participar na nossa sociedade – através de processos de auscultação e co-construção agora online estamos a garantir o envolvimento de todas e todos e estamos a apostar numa sociedade mais coesa, a solidificar as bases da nossa participação democrática e claro a prevenir populismos e demagogias futuras.

Não é muito, não é pouco. É o justo e quanto baste. Precisamos de unir todos os esforços para ultrapassar esta crise. O Estado precisa da juventude, mas a juventude precisa agora, mais do que nunca, do Estado. Não lhes falhemos.

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