Trinta anos depois de Noriega, EUA põem a cabeça de Maduro a prémio

Departamento de Justiça norte-americano acusa Nicolás Maduro de liderar um cartel de tráfico de droga e oferece 15 milhões de dólares pela sua captura.

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A acusação contra Maduro indica que foram fechadas todas as portas à possibilidade de uma transição pacífica de poder LUSA/MIRAFLORES PRESS HANDOUT

Um ano depois de uma tentativa falhada para depor Nicolás Maduro da liderança da Venezuela, através do reconhecimento de Juan Guaidó como Presidente interino, o cerco dos Estados Unidos ao Governo de Caracas apertou-se, esta quinta-feira, com um anúncio que já não se via há mais três décadas. Por decisão do Departamento de Justiça norte-americano, Maduro foi acusado de participação no tráfico de droga internacional e tem agora uma recompensa de 15 milhões de dólares sobre a sua cabeça.

De acordo com os documentos da acusação, Nicolás Maduro passou a liderar uma organização de tráfico de droga conhecida como Cartel de Los Sols, com o objectivo de enriquecer pessoalmente e de usar o dinheiro do tráfico internacional para sustentar o seu regime nos últimos anos.

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Poster com oferta da recompensa pela captura de Nicolás Maduro DEA

Sob o domínio de Maduro e de outros líderes, o cartel “inundou os Estados Unidos com cocaína e infligiu os efeitos nocivos e viciantes dessa droga a consumidores no país”, acusa o Departamento de Justiça norte-americano.

No Twitter, Nicolás Maduro reafirmou que está a ser alvo de uma “conspiração” coordenada pelos governos dos Estados Unidos e da Colômbia, e garantiu que não se afastará da liderança do país.

“Como chefe de Estado, sou obrigado a defender a paz e a estabilidade em toda a pátria, em qualquer circunstância. Não conseguiram e não vão conseguir!”, disse Maduro.

A justiça norte-americana acusa também Nicolás Maduro – e outros membros do seu Governo, como o ministro da Defesa, o general Vladimir Padrino – de negociar carregamentos de cocaína produzida pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em troca do envio de armamento militar à guerrilha marxista colombiana.

Em declarações ao jornal New York Times, o director da organização não-governamental norte-americana Gabinete de Washington para a América Latina, Geoff Ramsey, disse que a acusação contra Maduro indica que foram fechadas todas as portas à possibilidade de uma transição pacífica de poder na Venezuela.

“O Governo dos Estados Unidos já mostrou estar disponível para fazer acordos com pessoas acusadas de abusos dos direitos humanos ou de corrupção, mas nunca com pessoas implicadas em tráfico de droga”, disse. “Agora, é mais provável que estas pessoas cerrem ainda mais as suas fileiras do que procurem fazer algum tipo acordo. Qualquer esperança num final suave foi destruída.”

O exemplo de Noriega

É a primeira vez, desde Dezembro de 1989, que os Estados Unidos oferecem uma recompensa pela captura de um chefe de Estado.

Nesse ano, o líder da ditadura militar do Panamá e antigo agente da CIA, Manuel Noriega, foi afastado numa invasão norte-americana que fez entre 500 e 3000 mortos, de acordo com os números das Nações Unidas e das organizações de defesa dos direitos humanos na região. Tal como Maduro, Noriega foi acusado de tráfico de droga.

Com a operação militar em andamento, o então Presidente dos Estados Unidos, George Bush, ofereceu uma recompensa de um milhão de dólares (920 mil euros, ao valor actual) por informações que levassem à captura de Noriega. O general panamiano viria a refugiar-se na missão diplomática do Vaticano no Panamá e seria capturado nos primeiros dias de Janeiro de 1990, depois de se ter rendido.

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