Dezenas de professores portugueses em Timor à espera de repatriamento

Quase todos os professores no país ao serviço de Portugal como cooperantes pediram repatriamento.

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MIGUEL MADEIRA/Arquivo

Muitos professores portugueses destacados em Timor-Leste, onde este fim-de-semana as autoridades informaram ter sido detectado o primeiro caso de infecção por covid-19, já manifestaram vontade de regressar a Portugal. Esta segunda-feira, os estabelecimentos de ensino neste país asiático foram mandados fechar pelas autoridades.

Em causa estão docentes de origem portuguesa envolvidos em dois projectos de ensino ligados a iniciativas de cooperação entre Portugal e Timor-Leste. No Centro de Aprendizagem e de Formação Escolar (CAFÉ) trabalham cerca de 140 professores (espalhados por 13 municípios), enquanto na Escola Portuguesa de Díli trabalham à volta de 60 docentes.

Na sua maioria os cerca de 200 professores estão em Timor-Leste ao serviço do Estado português como cooperantes. À Lusa, a coordenadora dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), Lina Vicente, disse que “praticamente a totalidade dos professores pediu o repatriamento”.

Esta segunda-feira, primeiro dia de suspensão das aulas, Lina Vicente enviou uma nota aos docentes do CAFE na qual considera que não é possível “continuar” com a “vida normal e as saídas” e os aconselha a cumprirem “todas as regras de prevenção” e a protegerem-se em casa. E pede aos professores que evitem envolver-se em “qualquer situação que potencie conflitos ou qualquer acto indevido”, a quem também requere que não concedam “entrevistas a nível pessoal ou institucional sem pedirem autorização”, alertando-os de “que são agentes de cooperação” com contrato assinado.

No comunicado, Lina Vicente avisa que “perante a possibilidade de repatriamento, se alguns professores decidirem ficar, a decisão implicará a impossibilidade de ser deslocado para tratamento de qualquer doença, bem como a ausência de segurança nas casas do projecto e de motorista”.

Por seu turno, o director da Escola Portuguesa de Díli, Acácio de Brito, declarou à Lusa que “pelo menos dois professores” da instituição já lhe transmitiram a vontade de ser repatriados. “Isto, obviamente, é uma questão e uma decisão individual. Foram, entretanto, dadas instruções a professores e alunos para não virem à escola”, notou.

A Embaixada de Portugal em Díli avançou à Lusa que, para além dos professores, há “outros portugueses em Timor-Leste, cujo número não foi precisado, a solicitarem o repatriamento”. Naquele país encontram-se, por exemplo, profissionais das forças policiais nacionais.

Ao PÚBLICO, um familiar de uma docente do Centro de Aprendizagem e de Formação Escolar explicou que a situação é complicada, nomeadamente, pela ausência de condições nos serviços de saúde, e ainda por alguma instabilidade que se acentuou nos últimos dias. No grupo que já pediu para regressar a Portugal há docentes considerados do grupo de risco à pandemia por covid-19, por sofrerem de diabetes ou apresentarem debilidades pulmonares, disse a mesma fonte.

Garantias aos professores

A 19 de Março, para abordar o tema, juntaram-se no Centro Cultural da Embaixada de Portugal, responsáveis diplomáticos e da educação. No encontro, refere uma carta enviada aos professores, foi dito que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste “está consciente de algum sentimento de desconfiança associado à transmissão do vírus pela população estrangeira, mantendo-se atento à situação”, tendo sido sugerida a “sensibilização junto das comunidades”.

Foi igualmente garantido que, se “algum docente decida regressar a Portugal, não haverá cessação do contrato da parte de Timor-Leste, ficando apenas suspenso o pagamento dos complementos” e que “o bilhete aprazado para Dezembro poderá ser usado em caso de necessidade para regressar a Portugal”. Ainda assim, o embaixador preveniu “que a utilização do bilhete de regresso a Portugal, neste momento, está comprometida, dado o encerramento das fronteiras de alguns países”.

As autoridades “comprometeram-se a garantir o regresso dos docentes referidos, a Timor-Leste, quando estiverem reunidas todas as condições”. Aos que pretendam continuar em Timor-Leste é assegurado “o pagamento dos complementos”.

Insultos

Na reunião foi também foi indicado que, àquela data, não existiam referenciados casos de infecções por covid-19, pelo que a situação em Timor-Leste “não é prioritária, existindo um Plano de Contingência de Carácter Geral, que se aplica a casos de uma crise muito grave, catástrofes naturais, níveis de ameaça, perigo iminente”. O quadro alterou-se quando, este domingo, foi reportado o primeiro episódio de contaminação. E as preocupações dos docentes aumentaram.

A ministra da Saúde timorense veio informar, segundo a Lusa, que o doente não tinha nacionalidade timorense e que apresentava sintomas ligeiros, encontrando-se actualmente sob vigilância médica e em quarentena. Relatou igualmente que foram enviados mais testes de situações duvidosas para a Austrália para serem analisados.

De acordo com a Lusa, os professores a trabalharem em Oecusse, o enclave de Timor-Leste na Indonésia, foram já retirados para Díli, depois de Jacarta ter mandado encerrar as suas fronteiras. Do mesmo modo, o embaixador de Portugal em Timor, também ordenou a transferência para Díli dos 11 professores destacados em Baucau, isto após relatos de eventos de algumas hostilidades perante os estrangeiros.  A agência noticiosa nacional avançou que “residentes portugueses e de outras nacionalidades relataram pequenos incidentes, ocorridos nos últimos dias, com insultos que tentam relacionar a covid-19 com estrangeiros”. As autoridades nacionais dizem que estão a acompanhar a situação.

Em Moçambique há nota de que cerca de 70 professores da Escola Portuguesa de Maputo aguardam informações sobre como podem regressar a Portugal, dado que os voos entre Portugal e Moçambique, onde surgiram este domingo os primeiros casos de covid-19, foram interrompidos.  

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