Coronavírus: “É a sobrevivência da Guiné-Bissau que está em causa”
Líder do Partido de Unidade Nacional apresenta uma proposta de “tréguas” na crise política, que permita lidar com a pandemia: “Se não dermos este passo, o coronavírus não vai escolher quem é mau e quem é bom”, disse ao PÚBLICO.
Idriça Djalo, líder do pequeno Partido de Unidade Nacional (PUN) e candidato nas últimas eleições presidenciais da Guiné-Bissau, vai apresentar na terça-feira a todos os partidos com assento parlamentar um pacto nacional que permita estabelecer umas “tréguas” políticas para que o país possa lidar com a pandemia do coronavírus.
O “pacto nacional” foi apresentado esta segunda-feira por Idriça Djalo, em conferência de imprensa em Bissau, e tem por base a criação de “duas estruturas ad hoc apolíticas”, compostas por personalidades respeitadas e que possam tomar decisões para permitir ao país melhor enfrentar a pandemia que está a bater à porta – dois países vizinhos, Senegal, a norte, e Guiné-Conacri, a sul, já têm casos de civid-19 confirmados.
As duas estruturas “deverão dispor de plenos poderes até ao final da pandemia e da fase de relance da nossa economia”, refere a proposta.
“É a sobrevivência do nosso país, é a sobrevivência da Guiné-Bissau que está em causa. Se não dermos este passo, se continuarmos a acusar-nos mutuamente, o coronavírus não vai escolher quem é mau e quem é bom”, disse ao PÚBLICO Idriça Djalo, economista formado em França, figura respeitada do panorama político guineense.
O líder do PUN vai começar a ronda de conversações com os partidos com assento parlamentar e com o autoproclamado Presidente, Umaro Sissoco Embaló, e o seu primeiro-ministro, Nuno Nabiam, esta terça-feira. “Vamos enviar a proposta a todas as autoridades legais e ilegais e conversar”, disse, “para que todos se possam posicionar publicamente”.
“O nosso país, a Guiné-Bissau, sem dúvida alguma faz parte do elo mais frágil do nosso continente”, escreve o líder do PUN num texto que procura “consensos” para enfrentar os “graves desafios sanitário, económico, social e político” que o país enfrenta com a pandemia e assim “evitar a tragédia”.
Para isso, diz Djalo, é preciso “adiar o contencioso político, sem pôr em causa a necessidade de resolvê-lo logo que for possível”. Se os actores políticos quiserem evitar “o risco de ver centenas ou milhares” de guineenses “morrer em consequência da covid-19”, a “prioridade” deve ser a construção de “um consenso nacional e colocar a Guiné-Bissau em ordem de batalha”.
A proposta do PUN prevê a criação de uma equipa de especialistas em saúde pública e epidemiologia para a lidar com a questão da pandemia em termos sanitários. Seria dirigida por Magda Robalo, Inácio Alvarenga, Amabélia Rodrigues e Paulo Rabna. Seriam estes a “fornecer as respostas científicas” às “questões colocadas pelas autoridades políticas” e “recomendar as medidas de saúde pública” a adoptar.
Uma outra equipa económica, liderada por Carlos Lopes e Paulo Gomes, seria criada para reflectir o impacto das medidas tomadas e “conceber as solicitações realistas de apoio aos nossos parceiros europeus, chineses, americanos e africanos”.
“Somente confiando estas responsabilidade a uma equipa de profissionais competentes teremos a chance de ultrapassar este flagelo”, explica o presidente do PUN, que exige no final do texto: “Os actores de todos os quadrantes políticos devem comprometer-se por escrito e publicamente em transferir poderes alargados” às duas estruturas ad hoc e “abster-se de toda a ingerência e aproveitamento político durante este período crítico”.