Cozinheiros fazem refeições para distribuir pelos hospitais e pelos mais carenciados
No Algarve, Rui Silvestre e Noélia lançaram o Alimentar a Saúde, para ajudar hospitais e famílias. No Porto, vários chefs estão a cozinhar, com produtos fornecidos pela Makro, que são entregues por voluntários a quem mais precisa.
Da cozinha do restaurante Vistas, em Vila Nova de Cacela, no Algarve, já saíram esta segunda-feira refeições destinadas ao Hospital de Faro. No Porto, na cozinha do Oficina, três cozinheiros prepararam nos últimos dias “cerca de mil” pratos de massada de peixe destinados a famílias carenciadas da cidade.
Em diferentes pontos do país, chefs e cozinheiros tentam organizar-se em solidariedade para com os que mais precisam de ajuda em plena crise provocada pelo surto de covid-19. Após a declaração do estado de emergência pelo Presidente da República e novas medidas de contenção do surto, os restaurantes fecharam as portas (só ficam os que fazem take-away ou entregas) mas as cozinhas estão prontas a funcionar e as equipas disponíveis para ajudar.
A ideia da iniciativa Alimentar a Saúde nasceu da cabeça de Rui Silvestre, do algarvio Vistas, que entrou em contacto com a Makro, onde em tempos normais os chefs se abastecem de muitos dos ingredientes que utilizam, para saber se teria à disposição produtos para cozinhar. Perante a resposta afirmativa, contactou a Rede de Emergência Alimentar, lançada na sexta-feira, dia 20, pela Federação de Bancos Alimentares, e ofereceu-se para cozinhar refeições destinadas a “pessoal médico, lares, associações e famílias carenciadas”.
A Rui Silvestre juntou-se já, no Algarve, Noélia, do restaurante Noélia e Jerónimo em Cabanas de Tavira, que está igualmente a preparar refeições com os produtos fornecidos pela Makro. O panorama da indústria da restauração no Algarve é desolador, confirma Rui Silvestre. “Não existe uma estrutura montada para serviços de take-away, alguns estão a tentar organizar-se mas acho que vai ser muito complicado.”
No Porto, Vasco Coelho Santos, do Euskalduna e do Semea, está a trabalhar com Marco Gomes e com Tânia Durão, do Atrevo, na cozinha do Oficina. “Fechei os restaurantes no dia 13 e soubemos que a Makro tinha alimentos que se iam estragar. Falei com a Isabel Caeiro [da Makro] que me disse que tinham 300 quilos de peixe.”
Os cozinheiros organizaram-se, levaram alguns colaboradores das suas equipas e puseram-se a cozinhar massada de peixe, que, através dos voluntários das instituições parceiras do Banco Alimentar, estão a enviar para as famílias que precisam de apoio.
Se, no Algarve, Rui Silvestre assegura que o Alimentar a Saúde “é para continuar enquanto for necessário”, com a garantia do apoio da Makro e da colaboração com a Rede de Emergência Alimentar, no Porto ainda nada está definido.
“Temos muitos cozinheiros que querem ajudar”, afirma Vasco. “O problema é termos ingredientes. Os que tínhamos nos restaurantes já se esgotaram. Temos que ter o apoio da Makro, do Continente ou do Pingo Doce”.
Sabe, por exemplo, que a Makro já tinha disponibilizado esta segunda-feira mais 30 quilos de peixe que Joana Babo do restaurante Boa Bao tinha ido buscar. Também a padaria Intrigo se ofereceu para fornecer pão. “Cada um à sua maneira está a tentar ajudar.”