Rafael Polónia: “Tudo passa e o mundo, sei, tornar-se-á uma casa melhor”
Rafael Polónia é fundador da Agência de Viagens Landescape e acaba de voltar do Sri Lanka. Escreve para a Fugas a partir de Vale Formoso.
Viver um dia de cada vez (nunca esta frase fez tanto sentido).
Parti para o Sri Lanka certo de que tudo passaria rápido. Para descansar do Carnaval, voava para a antiga Taprobana. O calor apertava e a humidade era imensa. Estive de férias até quatro dias antes do regresso, dia 15 de Março, altura em que escrevo este texto no voo que me leva de volta a casa.
Durante a minha estadia, em que o trekking, a história, os lagos e o mar me ocuparam os dias, mantive-me informado dos números de infectados em Portugal. Antes de partir, no Sri Lanka eram conhecidos apenas dois casos. Quinze dias depois, são três. Nem por uma única vez ouvi a palavra coronavírus e tudo mudou quatro dias antes do regresso.
Portugal já estava num crescimento impensável. As rádios locais passaram a repetir sem fim o nome do mal. As escolas fecharam. O gel e o álcool foram-se das prateleiras, mas tudo o resto existe para comprar. As pessoas, nunca as vi usar máscaras até chegar à capital. Seria da poluição? Do vírus? Talvez um pouco dos dois. A vida corre de forma natural. Pensei ficar pelo sossego da praia e da montanha, mas sabia que os meus me queriam perto, nem que fosse à distância de uma janela.
Na Landescape, pensámos nas pessoas: em nós, nos viajantes e nos locais dos países e cancelámos viagens. Um por todos, todos por uma causa. Tudo passa e o mundo, sei, tornar-se-á uma casa melhor!
Irlanda, Uzbequistão, Argélia e Cáucaso serão os próximos destinos e em Novembro, Sri Lanka, para fechar este ciclo em bem e onde para mim o mal começou.
Viver um dia de cada vez. Um dia de cada vez!
Texto escrito no dia 15 de Março de 2020