População sem-abrigo vai ser acolhida no pavilhão do Casal Vistoso
Resposta oferece uma cama, jantar e pequeno-almoço a novos casos de pessoas que fiquem a viver na rua. Para já, diz fonte da autarquia, “não se justifica o isolamento profiláctico” da população sem-abrigo. Caso seja decretado Estado de Emergênca, pavilhão terá condições para a acolher.
A população em situação de sem-abrigo de Lisboa terá, a partir da noite de terça-feira, um centro de acolhimento improvisado no pavilhão do Casal Vistoso, no Areeiro, destinado a acolher quem não recebe apoio dos centros existentes ou caia agora na rua — devido a despejos, por exemplo — e dar mais uma resposta em plena crise pandémica do novo coronavírus.
Na tarde desta segunda-feira, o gabinete do vereador Manuel Grilo, que tem o pelouro dos Direitos Sociais, esteve reunido com o vereador da Protecção Civil, Carlos Castro, para ultimar este plano de contingência que será semelhante ao que a autarquia faz nas vagas de frio, e servirá para responder à procura de abrigo de novas pessoas que fiquem sem tecto.
Será aberto um pavilhão onde quem não tem casa poderá permanecer, com cama e refeições, ainda que, face ao surto, a situação tenha contornos distintos: será usado para acolher apenas cerca de 40 pessoas do sexo masculino (mulheres e casais terão outra resposta para evitar potenciais casos de agressão sexual, nota a autarquia) — a câmara lançou, inclusive, esta segunda-feira, uma campanha nas redes sociais para sensibilizar para a denúncia de casos de violência doméstica, nesta altura em que grande parte da população está isolada nas suas casas.
O pavilhão terá casas de banho e chuveiro, espaço para animais e para guardar os pertences de cada pessoa. Serão acompanhadas por membros do Núcleo de Apoio a Sem-Abrigo da Câmara de Lisboa, por equipas médicas de acompanhamento, e respostas de saúde mental e dependências. Esta resposta terá sempre jantar e pequeno-almoço.
Segundo fonte do gabinete do vereador dos Direitos Sociais, estas medidas de prevenção “serão acomodadas com monitorização de saúde permanente”. “Caso seja necessário, em contexto de Estado de Emergência, este espaço dará resposta durante todo o dia como todas as refeições diárias providenciadas”, garante.
Quanto aos centros de acolhimento, que normalmente apenas têm horário nocturno, fonte da autarquia explicou que, “para já, e articulado com as entidades de saúde, não se justifica isolamento profiláctico. Estas pessoas quando estão na rua, não têm contacto social relevante ou estão em respostas diurnas (Centros Ocupacionais de Inserção Diurna)”. Disse ainda que, caso as circunstâncias se alterem, os centros poderão manter as portas abertas durante o dia.
Na semana passada, a autarquia já tinha anunciado que todos os centros de acolhimento teriam planos de contingência aprovados, a limpeza seria reforçada e que seriam criados espaços de isolamento para casos suspeitos. Anunciou ainda a abertura de dois novos espaços “com todas as condições” para quarentena.
As equipas de rua vão continuar a trabalhar, respeitando as indicações que forem sendo dadas pelas autoridades de saúde. Quanto à alimentação, tudo vai manter-se como até agora. Os Núcleos de Apoio Local vão continuar a servir refeições, e as equipas de rua também, “com as devidas precauções”, explicou fonte da autarquia na sexta-feira passada.
De acordo com a última contagem conhecida, que data de Janeiro de 2019, dormem nas ruas da capital 361 pessoas. No entanto, há mais 1967 que estão em quartos, centros de acolhimento temporário e alojamentos específicos para pessoas sem casa ou projectos Housing First.
No Porto, a Santa Casa da Misericórdia já disse que vai disponibilizar dez camas para os sem-abrigo da cidade que possam vir a ficar infectados com covid-19 no Centro Hospitalar Conde de Ferreira.