A Síria de Assad diz que não tem coronavírus. Mas está a fechar-se como se tivesse

Organizações que monitorizam a guerra dizem que médicos que detectaram casos de infecção estão impedidos de falar. Só três países do Médio Oriente não assumiram ter ainda o novo vírus: a Síria, o Iémen e o Líbano.

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Temperatura medida a quem passa a fronteira entre Azaz, no lado sírio, e a cidade turca de Kili Khalil Ashawi/REUTERS

Oficialmente a Síria, cujo território é em grande maioria hoje controlado pelo Presidente Bashar Al-Assad, não tem nenhum caso do novo coronavírus. Mas neste sábado foram adiadas para 20 de Maio as eleições legislativas marcadas para 13 de Abril, encerradas escolas e cancelados quase todos os eventos públicos, até as preces de sexta-feira na mesquitas, pelo menos até 4 de Abril.

O ministro da Educação Imad Al-Azab anunciou que as escolas seriam encerradas até 2 de Abril, enquanto as autoridades fazem a monitorização do vírus, garantindo que “não seria possível” esconder as infecções. A agência noticiosa SANA avançou que todos os espectáculos desportivos, culturais e eventos científicos e sociais seriam cancelados e muitas instituições públicas seriam encerradas ou trabalhariam apenas com 40% do pessoal. O Ministério da Saúde disse que estas medidas são apenas de “precaução”.

Mas há motivos para suspeitar que não será bem assim. A Síria é um país em guerra há nove anos. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma organização com sede no Reino Unido mas com observadores no terreno, avança que médicos sírios detectaram casos do novo coronavírus em Damasco e em pelo menos três outras províncias, mas receberam ordens para permanecer em silêncio.

O ministro da Educação negou que isso estivesse a acontecer. “Nenhum ministério pode esconder uma doença. Se existir algures, ela espalha-se, é muito difícil ocultá-la”, declarou.

Responsáveis governamentais paquistaneses disseram na terça-feira que pelo menos cinco dos casos no seu país são pessoas que vieram da Síria através do Qatar. Não é claro se a doença poderia ter sido contraída no Qatar, onde há já 337 casos – o número mais elevado entre os Estados do Golfo Pérsico.

A Síria é um dos três países do Médio Oriente, juntamente com a Líbia e o Iémen, que ainda não anunciaram casos do novo coronavírus. Mas a Síria já suspendeu ligações aéreas com alguns países, embora o regime de Damasco tenha extensas ligações com milícias apoiadas pelo Irão – um dos países mais afectados pela epidemia.