Coronavírus: perto de 200 restaurantes fecham portas, chefs pedem apoios
Perto de 200 restaurantes já encerraram em Portugal, incluindo três com estrelas Michelin, devido à epidemia da covid-19, com chefs a pedir apoios para contrariar a crise no sector e outros a procurar soluções como vouchers ou entregas.
Nos últimos dias, têm-se sucedido apelos de chefes de cozinha para a necessidade de apoios do Governo à restauração, bem como os anúncios de encerramentos de estabelecimentos, quase todos sem data para reabrir. Segundo fontes do sector, perto de 200 restaurantes já fecharam, de norte a sul do país, mas o número poderá continuar a aumentar nos próximos dias.
“Face à ameaça crescente de propagação do vírus [que causa a doença] covid-19, o grupo Sana tomou preventivamente a decisão de encerrar temporariamente o espaço de restauração Fifty Seconds, anunciou a empresa, sobre o restaurante lisboeta com a assinatura do chef espanhol Martin Berasategui e que ganhou uma estrela Michelin no guia de 2020. Trata-se, segundo o grupo, de uma “medida responsável e preventiva” para contribuir “para a defesa e protecção dos colaboradores, clientes, respectivas famílias e cidadãos em geral”.
A Norte, o Largo do Paço (Amarante, uma estrela) anunciou ter decidido “actuar preventivamente e encerrar” a actividade até ao final deste mês, “altura em que se irá reavaliar a situação”, justificando com a intenção de “salvaguardar a saúde e o bem-estar dos clientes, equipa e comunidade”.
Em Guimarães, o chef António Loureiro comunicou este sábado, 14 de Março, através das redes sociais, o encerramento do restaurante A Cozinha, que tem uma estrela Michelin há dois anos, uma decisão que confessou ser “das mais difíceis” da sua vida. “Até a tempestade passar”, afirmou, na publicação, justificando com a responsabilidade que sente para com a sua equipa e respectivas famílias, bem como com a sua própria família.
Também o Henrique Leis (Algarve), que perdeu este ano a estrela Michelin detida durante quase 20 anos, estará fechado a partir deste sábado e, pelo menos, até 1 de Abril. “É nossa responsabilidade proteger os nossos empregados e clientes e ajudar a combater esta pandemia”, lê-se numa mensagem divulgada pelo chef Henrique Leis.
Rui Paula, que este ano viu a sua “Casa de Chá da Boa Nova” (Matosinhos) ganhar a segunda estrela Michelin, desabafou, também através das redes sociais: “Nunca pensei que esta pandemia viesse afectar os nossos negócios de uma maneira tão rápida e incisiva”. Há dois dias, o chef falava já de uma quebra de 60% na facturação, um cenário que antecipava que se manterá pelo menos até Junho ou Julho. Rui Paula pede uma união de chefs, restauradores e hoteleiros” para fazer pressão junto das “entidades competentes”, reclamando “medidas drásticas e de rápida implementação”.
Face à crise, alguns restaurantes procuram já amenizar os impactos. No Loco (uma estrela) e Fogo, ambos na capital, Alexandre Silva lançou vouchers para serem usados “depois de a calamidade passar”, anunciou no Facebook, uma iniciativa para responder aos “cancelamentos atrás de cancelamentos”. “Enfrentamos hoje o que será uma das maiores, se não a maior crise na indústria da restauração (e não só)”, escreveu Alexandre Silva no Facebook, onde admitiu o seu “desespero”. O chef deixou um pedido às autoridades para que “coloquem em prática soluções para ajudar as empresas a ultrapassar isto tudo”.
Ljubomir Stanisic foi outro chef que decidiu fechar os seus dois estabelecimentos em Lisboa — 100 Maneiras e 100 Maneiras Bistro — a partir deste domingo, uma decisão tomada “apesar de não haver nenhuma indicação do Governo para o encerramento de restaurantes”. “Esperamos que as ajudas oficiais cheguem, antes que seja demasiado tarde”, afirmou, nas redes sociais, alertando: “O golpe financeiro que sofreremos poderá levar muito tempo a sarar”.
Também o grupo Amorim Luxury anunciou o encerramento dos seus espaços — JNcQuoi Avenida, JNcQUOI Asia, Ladurée e JNcQUOI CLUB, na capital — bem como de várias lojas em Lisboa, Porto e Algarve, “tendo em conta os interesses superiores de saúde pública”, estando a reabertura condicionada “à reavaliação e acompanhamento permanente da evolução da pandemia”.
A partir de segunda-feira, 16 de Março, os quatro restaurantes (Tasca da Esquina, Peixaria da Esquina, Balcão da Esquina e Talho da Esquina) e as três Padaria da Esquina de Vítor Sobral, em Lisboa, estarão de portas fechadas, mas o chef vai manter a venda de refeições e produtos à porta dos estabelecimentos ou através da entrega em casa através de plataformas digitais, anunciou na sua página no Facebook. Vítor Sobral lançou também um apelo, em entrevista ao Expresso, para que o Governo implemente uma linha de financiamento para o sector e permita o pagamento faseado dos impostos, medidas essenciais para evitar “uma pandemia de desemprego”.