S&P já prevê défice este ano, mas mantém perspectiva positiva para o rating
Agência assinala a existência de impactos negativos do coronavírus para a economia e finanças públicas portuguesas. Ainda assim, aposta na capacidade de Portugal voltar aos números mais positivos a seguir ao choque da pandemia.
Apesar de estar já a antecipar um resultado orçamental este ano mais negativo do que o antes previsto e de alertar para os riscos económicos trazidos pelo novo coronavírus, a Standard & Poor’s deu esta sexta-feira uma prova de confiança na capacidade de Portugal resistir ao choque ao manter uma perspectiva “positiva” no rating atribuído ao país.
A agência de notação financeira – uma das três mais importantes do mundo – anunciou na sexta-feira ao final do dia que não iria realizar qualquer alteração à classificação atribuída a Portugal, que deste modo mantém o seu rating em BBB, com uma perspectiva “positiva”.
A manutenção da perspectiva “positiva”, que tinha sido introduzida no passado mês de Setembro, significa que a S&P continua a ponderar efectuar uma nova subida no rating de Portugal, algo que poderá acontecer depois de ultrapassada esta fase.
Com o avanço do coronavírus um pouco por todo o mundo, e os impactos económicos da pandemia a tornarem-se cada vez mais evidentes, era considerado inevitável que a S&P não subisse agora o rating português, algo que se confirmou. Mas, pior do que isso, existia o risco de a agência abandonar a perspectiva “positiva” que tinha anunciado há seis meses, passando-a para “estável” ou mesmo “negativa”.
Esta sexta-feira, a S&P procedeu a essa descida da perspectiva na sua avaliação de outro país da zona euro, Malta, mas em relação a Portugal isso não aconteceu, revelando que a agência continua a acreditar na capacidade do país resistir ao choque trazido pelo coronavírus e, a seguir, retomar a evolução positiva que vem registando na economia e nas finanças públicas. "A perspectiva ‘positiva’ reflecte a nossa visão de que a capacidade de Portugal assumir o seu alto nível de compromissos externos continua a aumentar, apesar do cenário de incerteza nos mercados financeiros internacionais”, explicou a S&P na nota publicada.
De qualquer modo, isto não significa que a S&P considere que Portugal vá sair ileso da crise. Pelo contrário, a agência alerta que “os riscos económicos do coronavírus são consideráveis, dado que mais de um quinto das receitas externas (e cerca de 8% do valor acrescentado bruto) vem do turismo”. E antecipa desde já um desempenho das finanças públicas menos favorável.
Para este ano, em vez do excedente orçamental de 0,2% que está previsto no Orçamento do Estado para 2020, a agência está agora a prever, por causa dos efeitos da pandemia, um regresso a um défice, de 0,3% do PIB.
A expectativa da S&P – e é por isso que mantém a classificação atribuída a Portugal – é que, depois do choque, se verifique uma recuperação relativamente rápida e a economia portuguesa, em sintonia com a conjuntura externa, apresente um “crescimento em U”, isto é, o regresso a taxas de variação do PIB positivas depois de um período relativamente curto de taxas negativas.
Isto permitira, antevê a agência, que ao nível das finanças públicas se possa logo em 2021 obter o excedente orçamental que tinha ficado adiado em 2020 e assim voltar a acelerar o processo de redução do peso da dívida pública no PIB.
Os responsáveis da S&P, contudo, estão conscientes que o actual cenário é de riscos e avisam que uma redução da perspectiva de “positiva” para “estável” poderá acontecer se “o risco de refinanciamento externo aumentar ou houver uma deterioração inesperada e sustentada no desempenho orçamental e económico”.
A próxima avaliação da S&P a Portugal fica agora agendada para o próximo mês de Setembro.