Coronavírus: BCE garante financiamento aos bancos a taxas de juro ainda mais negativas
Para contrariar o efeito negativo do coronavírus, Christine Lagarde optou por ajudar directamente os bancos e as empresas. O banco central não baixa taxa de juro de referência, mas garante aos bancos que podem financiar-se a longo prazo com taxas ainda mais favoráveis.
Em resposta ao mais que provável impacto económico negativo do novo coronavírus, o Banco Central Europeu decidiu esta quinta-feira abrir uma nova linha de empréstimos a taxas de juro negativas para os bancos da zona euro, reforçando ao mesmo tempo em 120 mil milhões de euros as compras de obrigações empresariais que irá realizar até ao final do ano. A decepcionar os mercados está o facto de as taxas de juro de referência do banco central, já situadas em mínimos, ficaram inalteradas.
Apesar de afirmar que não observa para já “sinais materiais de pressão nos mercados monetários ou faltas de liquidez no sistema bancário, a entidade liderada por Christine Lagarde optou, neste momento de incerteza, por melhorar de forma significativa as condições de financiamento dos bancos da zona euro. Na prática, o banco central irá pagar aos bancos para lhes emprestar dinheiro.
Em primeiro lugar, com impacto mais imediato, foi criada uma nova linha de empréstimos de três meses a taxa fixa para os bancos, com o objectivo de “fornecer liquidez em termos favoráveis” até que as linhas de longo prazo previstas para Junho deste ano sejam lançadas. Estes empréstimos terão uma taxa de juro igual à taxa média de depósitos do BCE, que se encontra neste momento em terreno negativo, nos -0,5%.
Depois, são também melhoradas as condições das linhas de empréstimos de longo prazo que já estavam previstas para Junho. Nesse caso, a taxa de juro aplicada ficará 25 pontos base abaixo da taxa média de depósitos do BCE, isto é, pode ir até aos -0,75%.
Com estes empréstimos aos bancos a taxas de juro negativos, aquilo que o BCE pretende é “apoiar o crédito dos bancos àqueles afectados pela expansão do coronavírus, em particular as pequenas e médias empresas”.
Antes disso, já tinha sido anunciado o alívio dos rácios de capital exigidos aos bancos da zona euro, com o BCE a dizer que será permitido aos bancos apresentar rácios que fiquem “temporariamente abaixo” dos níveis exigidos, aceitando-se também que as instituições financeiras usem activos antes considerados de qualidade inferior na sua contabilização de capital.
Noutra medida que poderá vir a ser bem recebida pelos bancos, a Autoridade Bancária Europeia anunciou que irá adiar a realização dos testes de stress que estavam previstos para este ano.
A última medida anunciada pelo BCE é o lançamento de um “envelope temporário” de compras adicionais de activos no valor de 120 mil milhões de euros até ao final do ano, pretendendo o banco que tal seja feito com o “forte contributo” dos programas de compras de dívida emitida pelas empresas, mas que deverá também conduzir a um reforço dos volumes de dívida pública comprada pelo banco central.
A reacção inicial dos mercados ao pacote de medidas anunciado pelo BCE não foi positiva, o que se deverá ter devido ao facto de a entidade liderada por Christine Lagarde ter optado por não realizar novos cortes nas suas taxas de juro de referência, que se encontram neste momento a zero no caso da taxa de juro de refinanciamento e em -0,5% no caso da taxa de juro de depósito.
A presidente do BCE irá, às 13h30 explicar, em conferência de imprensa, explicar com maior detalhe as medidas tomadas.