Podence procura nos “wolves” o espaço que teve na Grécia e lhe faltou em Portugal

O Wolverhampton visita hoje o Olympiacos, a equipa à qual contratou Podence, jogador que deu o salto com Pedro Martins.

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Podence em acção pelos "wolves" LUSA/TIM KEETON

É português e quer entrar e ter sucesso na Liga inglesa de futebol? Junte-se ao Wolverhampton. Esta ideia, que mais parece tirada de um anúncio de jornal, tem sido seguida por muitos jogadores. Um deles foi Daniel Podence, o último a responder a um “anúncio” que obrigou os “wolves” a desembolsarem 20 milhões de euros ao Olympiacos para o contratarem.

Hoje, na Liga Europa, no Olympiacos-Wolverhampton, Podence quererá mudar a forma como Inglaterra e Grécia o vêem: os adeptos ingleses ainda acharão que foram 20 milhões mal gastos, enquanto os gregos ainda esfregarão as mãos pela alta maquia que receberam. Está nos pés do avançado a possibilidade de começar a inverter pensamentos e justificar o que dinheiro que fez movimentar no mercado de Inverno.

A carreira de Daniel Podence tem tido um desenvolvimento incomum. Formado no Sporting, chegou à equipa principal “leonina”, mas sem se afirmar. Nada que não tenha acontecido a muitos outros, porém, e que não pudesse ser revertido. E foi o que fez.

No Moreirense, mostrou ao que vinha. 1,63 metros de velocidade, drible, desequilíbrios e energia fizeram-no regressar a Alvalade. Mas voltou a nunca convencer totalmente Jorge Jesus e, após o ataque à academia de Alcochete, foi um dos jogadores que decidiram rescindir unilateralmente o contrato. O Sporting não lhe estava destinado.

“Fugiu” para a Grécia, num passo duplamente arriscado: por um lado, desperdiçou a oportunidade de, perante a debandada em Alvalade, se afirmar como figura “leonina” (até pela mudança de treinador). Por outro, atirou-se de cabeça para um campeonato de segunda linha no panorama europeu.

No Olympiacos, Daniel Podence teve, porém, um contexto propício ao sucesso: um clube cronicamente a lutar pelos lugares de topo na Grécia, um ambiente de língua portuguesa, num campeonato recheado de compatriotas, e um treinador luso, Pedro Martins, conhecedor do “factor Podence”.

“Ele consegue jogar em espaços interiores de outra forma. No Sporting jogava mais como segundo avançado, mas agora consegue jogar melhor por dentro, porque nós, muitas vezes, defrontamos blocos muito baixos e é importante que ele domine as duas situações”, explicou o técnico português, ao jornal Record, passado mês de Setembro.

Da irreverência à técnica, passando pela energia que entregava aos jogos e até por uma melhoria na finalização, a Grécia teve direito a todo o “factor Podence”, ora a titular (quase sempre), ora saltando do banco. E Podence voltou a ser Podence, convencendo até Fernando Santos a chamá-lo à selecção nacional, para um duplo confronto com a Sérvia e com a Lituânia.

Agora, há Inglaterra. O jogador quis repetir a receita vencedora e, apesar de estar no estrangeiro, voltou a entregar-se a um “ambiente controlado”, convencendo o muito português Wolverhampton a pagar 20 milhões de euros pelo seu passe — um valor que deu aos gregos uma recompensa “simpática” pelo extremo/avançado.

No fundo, o Olympiacos (que acordou com o Sporting o pagamento de sete milhões pelo jogador) recebeu 13 milhões de euros para ter Podence emprestado durante uma época e meia. Entre o sentido de oportunidade no pós-Alcochete, primeiro, e a aposta firme de Pedro Martins, mais tarde, o emblema grego e a Gestifute fizeram de Podence um “negócio da China”.

Nos “wolves”, o atacante português, apesar de polivalente, ainda tem sido apenas um elemento secundário, ora ofuscado por Diogo Jota, no 3x5x2, ora por Adama Traoré, no habitual 3x4x3. “O Wolverhampton já tem uma equipa formada, que joga bem e obtém resultados. O Podence deve esperar pela sua oportunidade, deve ser paciente”, declarou Pedro Martins, em entrevista ao The Athletic, antes do embate desta noite, no Estádio Giorgios Karaiskakis. 

Se Nuno Espírito Santo vir o que Pedro Martins viu no pequeno atacante, Podence deverá ter, em breve, muito espaço. E o alto nível de Diogo Jota e Traoré — uma má notícia, para já, para o mais recente reforço — pode significar, para 2020-21, muito espaço para o português aproveitar eventuais saídas dos concorrentes, colocar o braço no ar e sair da opacidade. E essa trajectória pode até começar já hoje.

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