Coronavírus: quarentena sem precedentes esvazia ruas e supermercados em Itália

A quarentena de toda a população – 60 milhões de pessoas – resultou em ruas sem engarrafamentos e carruagens do metro cheias de lugares vagos.

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A praça Duomo, em Milão, praticamente vazia devido às recentes medidas do governo italiano. Reuters/FLAVIO LO SCALZO

Itália enfrenta um bloqueio sem precedentes, a partir desta terça-feira, que já deixou as ruas de Roma e de outras cidades desertas, isto depois de o governo ter alargado as restrições a todo o país numa tentativa de travar a pior epidemia do novo coronavírus na Europa.

As medidas de emergência, anunciadas ao final da noite de segunda-feira pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, replicam acções que já haviam sido tomadas na região da Lombardia, a Norte, e partes das províncias vizinhas, limitando movimento e proibindo reuniões públicas.

“O futuro de Itália está nas nossas mãos. Vamos todos fazer a nossa parte, temos de abdicar de algumas coisas pelo bem colectivo”, escreveu Conte no Twitter, encorajando as pessoas a assumir responsabilidade individual.

As últimas medidas surgiram depois de os dados terem mostrado que a epidemia de covid-19 continuar a agravar-se, com 10.149 casos positivos e 631 óbitos registados até terça-feira, fortemente concentrados nas regiões prósperas a Norte, na Lombardia, Emília-Romanha e Véneto.

Em Roma, os carros circularam à vontade, debaixo de um céu limpo, no centro da cidade, que normalmente está congestionado com o trânsito. No metropolitano da cidade, normalmente cheio durante a hora de ponta, os passageiros conseguiram encontrar lugares livres.

Os pontos de interesse da cidade, incluindo a Fonte de Trevi, o Panteão, a Escadaria da Praça de Espanha e a Praça de São Pedro, no Vaticano, estavam fechadas e vazias, com a polícia a dizer aos turistas para regressarem aos hotéis.

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A Escadaria da Praça de Espanha, um dos pontos de atracção turística de Roma. REUTERS/Remo Casilli

Durante pelo menos as próximas três semanas, a população tem indicações para ficar em casa, se possível, saindo a penas por motivos profissionais, necessidades de saúde ou emergências. Todos os que viajarem vão ter de levar consigo um documento a comprovar as razões. Escolas e universidades vão continuar fechadas.

Os eventos ao ar livre, incluindo os desportivos, estão suspensos, e bares e restaurantes têm de fechar a partir das 18h. Os estabelecimentos comerciais podem continuar abertos, desde que os clientes mantenham uma distância mínima de um metro entre si.

“Toda a Itália está agora fechada” foi a manchete do Corriere della Sera, o jornal italiano de maior circulação.

Na sequência das restrições, a Áustria anunciou o fecho da fronteira para pessoas provenientes de Itália, enquanto a British Airways cancelou todos os voos de e para o país.

Controlo severo

As medidas impostas em Itália são das mais severas impostas num país ocidental desde a Segunda Guerra Mundial, o que tem já levantado questões sobre a capacidade de as aplicar efectivamente num país com 60 milhões de pessoas.

Pouco depois do anúncio de Giuseppe Conte, os cidadãos de Roma apressaram-se a dirigir aos supermercados ainda abertos para garantir o abastecimento de comida e produtos de necessidades básicas, o que fez com que o governo tenha tido necessidade de declarar que o abastecimento ia ser garantido, não havendo necessidade de fazer compras por pânico.

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Fila à porta de um supermercado, em Turim. REUTERS/Massimo Pinca

“Também temos de nos preocupar com o facto de os supermercados poderem vir a ser esvaziados por causa do medo. Se as pessoas começarem a comprar em excesso, não vai sobrar água”, afirmou Gianni, uma das pessoas a dirigir-se aos supermercados que, à semelhança de muitos italianos, bebe água engarrafada. “Deviam exigir que as pessoas fizessem compras mediante a exibição de um cartão de identidade, permitir uma caixa por família”, atirou o porteiro de profissão, recusando divulgar o seu apelido.

Em Milão, o coração financeiro de Itália que já se encontrava sob controlos mais rigorosos, a situação foi semelhante a Roma, com muitas lojas e negócios abertos, mas muito menos gente do que o normal nas ruas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) elogiou a resposta “agressiva” à crise desde que os primeiros casos surgiram perto de Milão há quase de três semanas, dizendo que poderia ajudar a conter a propagação da doença a partir do seu epicentro a Norte.