Jokha Alharthi: um acto de rebeldia ou outra versão da história
Jokha Alharthi, 41 anos, natural de Omã, onde vive, é a primeira escritora árabe a ganhar o Man International Booker com Corpos Celestes, um livro político narrado a partir do mundo doméstico, onde as mulheres são as personagens mais fortes e a única voz na primeira pessoa é a de um homem em estado de semi-consciência. Corpos Celestes fala de interditos, entre eles a dificuldade de um país olhar para a sua história de escravatura.
“Por vezes o riso parece tão repelente”, pensou Abdallah, filho do homem mais rico da aldeia, o comerciante Sulayman. Um dia perguntou a Mayya se ela o amava e ela riu muito alto. Já eram casados. Ele tinha-se apaixonado por ela no dia em que a viu debruçada sob a máquina de costura, “uma figura pálida, delicada, misteriosamente distante. Vislumbrei-lhe o rosto, e a dor que vi nele tocou o sofrimento dentro de mim. O nariz curto e as maçãs do rosto, aliás, todo o seu rosto subia e descia ao sabor da profunda concentração com que ela tentava enfiar a agulha. Estava tão debruçada sobre a máquina que esta quase lhe suportava o corpo inteiro. Encurvada, a sua palidez destacava-se à luz do dia e a expressão de dor no seu pequeno rosto era intolerável.” Foi um riso repelente que ele guardou, amando-a no silêncio dela.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.