Inés Arrimadas vence primárias do Cidadãos e sucede a Albert Rivera
Porta-voz do grupo parlamentar dos liberais espanhóis obteve 77% dos votos, triunfando claramente sobre Igea. Primeira missão é definir rumo ideológico, depois do desastre eleitoral de Novembro.
Os militantes do Cidadãos elegeram, no domingo à noite, Inés Arrimadas como presidente do partido e sucessora de Albert Rivera – que se tinha demitido depois das eleições de Novembro, em Espanha. A porta-voz do grupo parlamentar dos liberais no Congresso dos Deputados chega à liderança do partido depois de umas eleições primárias vencidas de forma clara: obteve 76,91% dos votos, contra 22,32% de Francisco Igea e 0,76% de Joaquín Aparici.
Nesta eleição interna participaram mais de 12 mil dos cerca de 20 mil militantes, naquela que é a votação mais concorrida de sempre no Cidadãos. A tomada de posse acontecerá no congresso do partido, agendado para os dias 14 e 15 deste mês.
“Muitíssimo obrigado por inundarem de esperança as primárias do nosso partido, companheiros”, agradeceu a vencedora da contenda, no Twitter. “Serei a presidente de todos os militantes e trabalharemos sem descanso para que, juntos, devolvamos essa mesma esperança a milhões de espanhóis”.
A vitória de Arrimadas já era esperada, desde que assumiu a vontade de concorrer ao cargo. Figura fundamental do movimento constitucionalista e anti-independentista na Catalunha – onde nasceu e cresceu o partido – e cabeça-de-lista na vitória do Cidadãos nas eleições catalãs de 2017, em plena crise secessionista, a dirigente de 38 anos era vista, pelo seu protagonismo e exposição mediática, como a sucessora mais natural de Albert Rivera, que a levou para o Parlamento, em Madrid, em 2019.
Arrimadas será apenas a segunda líder da história do Cidadãos. Rivera guiou o partido durante todos os 13 anos da sua existência, tendo saído pela porta pequena, depois de um resultado eleitoral desastroso.
Entre as eleições espanholas de Abril e as de Novembro do ano passado e depois de ter rejeitado entrar num governo com o Partido Socialista (PSOE), de Pedro Sánchez – hoje coligado com o Unidas Podemos e Pablo Iglesias – o Cidadãos perdeu dois milhões e meio de votos e 47 deputados.
O tropeção eleitoral foi tal, que passou de terceira para quinta força política e deixou de se poder apresentar como uma das grandes vozes da oposição e da direita espanhola, depois de vários anos a construir e a cimentar essa reputação.
A primeira grande decisão de Arrimadas – que, apesar de tudo, representa a linha de continuidade do partido e da anterior direcção, ao contrário de Igea – está relacionada com o rumo ideológico e estratégico que pretende para o Cidadãos.
Por um lado, a guinada do partido à direita, promovida por Rivera, muito às custas da crise catalã e da entrada em cena da extrema-direita, afastou o eleitorado e os militantes (e até membros da direcção) que se reviam na ala liberal, europeísta e progressista do Cidadãos, muito importante na sua fundação, em 2006.
Mas essa reorientação estratégica também não foi suficiente para atrair os eleitores mais conservadores ou mais radicais, que optaram pelo Vox ou pelo Partido Popular (PP), nas últimas eleições.
O desafio de Inés Arrimadas será, por isso, o de encontrar um espaço político que lhe permita recuperar a reputação de um partido que, quando apareceu, foi entendido como moderno, refrescante e até revolucionário, por surgir num país preso ao bipartidarismo (PSOE-PP) durante muitas décadas – e que, nos últimos meses do Governo de Mariano Rajoy, chegou a disputar com o PP o primeiro lugar nas sondagens em Espanha.