Tartarugas comem plástico no oceano (também) devido ao cheiro
As tartarugas ingerem plástico no oceano porque o confundem com comida. Agora, viu-se que isso acontece não só pelo aspecto do plástico, mas também pelo seu cheiro no oceano.
Basta uma semana para plásticos à deriva no oceano ficarem revestidos de algas e microrganismos e ganharem assim um cheirinho que pode confundir-se com comida para tartarugas. Estes répteis não conseguem resistir e acabam por comer esse plástico. Esta é a principal conclusão de um estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Current Biology. De acordo com a equipa de cientistas que assina o artigo, esta é a primeira demonstração de que o odor dos plásticos no oceano pode levar os animais a ingeri-los.
São muitas as imagens que já vimos de tartarugas presas em redes de pesca. Não menos serão as notícias que nos informam que se encontrou plástico no estômago destes répteis. Já se sabia que as tartarugas podem confundir plástico com medusas. Mas que outros “mecanismos sensoriais” podem estar em jogo? “Resultados recentes sugerem que os animais marinhos devem ser atraídos pelos fragmentos de plástico não apenas pela sua aparência, mas também pelo seu cheiro”, lê-se no início do artigo.
Para testar se o cheiro tem mesmo alguma influência nas opções do menu das tartarugas, uma equipa de cientistas dos Estados Unidos fez experiências em laboratório com 15 tartarugas-comuns (de seu nome científico Caretta caretta). Testou-se assim a sua reacção ao cheiro da comida de tartaruga (peixe e camarão), ao da água, de plástico limpo e ao de plástico com acumulação de microrganismos, algas, plantas ou pequenos animais. Esta acumulação de organismos designa-se “bioincrustação” e acontece no plástico que fica à deriva no oceano.
Nas experiências, verificou-se que as tartarugas-comuns ignoravam o aroma do plástico limpo e da água, mas reagiam aos odores da comida e de plástico com organismos. Por exemplo, metiam a cabeça fora de água repetidamente para tentar perceber qual era a fonte da comida. Tal acontecia porque os plásticos com organismos tinham os mesmos odores que os predadores marinhos usam para localizar os sítios onde podem ir buscar comida. Os cientistas avisam ainda que as tartarugas foram protegidas durante as experiências, pelo que nenhuma ingeriu plástico.
“Percebemos que as tartarugas-comuns reagem aos odores de plásticos que passaram pelo processo de bioincrustação da mesma forma que respondem aos odores da comida, o que sugere que tartarugas devem ser atraídas pelos detritos de plásticos não apenas pelo seu aspecto, mas também pelo seu cheiro”, assinala Joseph Pfaller, investigador da Universidade da Florida (nos EUA) e primeiro autor do artigo, num comunicado da Cell Press, que edita a revista Current Biology. “Esta ‘armadilha olfactiva’ deve ajudar a explicar por que razão as tartarugas ingerem e ficam presas no plástico tão frequentemente.”
Num outro comunicado sobre o trabalho, a equipa diz que, para se evitar esta situação, a principal coisa a fazer é não deixar que o plástico chegue ao oceano. Para isso, dá conselhos de medidas práticas e ao alcance de todos, como a reciclagem das embalagens depois de um dia na praia. Algo fácil e que pode evitar que o plástico chegue ao menu das tartarugas.