O miúdo que aos 14 anos pediu aos pais para entrar para o PCP

Em plena adolescência, quis entrar para a JCP. “Calma”, disseram-lhe os pais. Já na faculdade, ficou sem dúvidas de que queria lutar dentro do PCP. Aos 24, é um dos jovens dirigentes comunistas que preparam as comemorações dos 100 anos do partido “com grande orgulho”.

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António Azevedo juntou-se à JCP há 10 anos DR
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Jovem entrou para a JCP aos 14 anos DR

“A forma intensa” como a professora de História do liceu deu a matéria do 25 de Abril e a forma “igualmente intensa” como falou da luta do PCP, levou António Azevedo, então com 14 anos, a pedir aos pais para o levarem à Festa do Avante! Estes, ainda que “com ligações a partidos de direita”, acederam. Ainda durante a festa, quis filiar-se na Juventude Comunista Portuguesa (JCP). Os pais pediram-lhe calma, dizendo-lhe que “deveria pensar melhor e assentar ideias. Já a estudar no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, o “contacto com outros comunistas” e a “sua luta contra as barreiras económicas que havia no ensino superior” tiram-lhe todas as dúvidas e, em 2014, inscreveu-se na JCP.

Hoje, com 24 anos, António Azevedo faz parte da direcção nacional, é membro da comissão política da Juventude Comunista Portuguesa e é um dos jovens que, “com orgulho”, se preparam para celebrar o centésimo aniversário do partido.

“Comecei a ver na faculdade que os comunistas tinham um papel muito importante. [Aqui] A intervenção não é simples, porque é uma faculdade tradicionalmente à direita, mas os comunistas estão lá constantemente a dar a cara. Integraram-me com naturalidade nas questões todas e eu não tive dúvidas de que queria fazer parte dessa luta”, conta António Azevedo durante uma conversa com o PÚBLICO no Centro Vitória, na lisboeta Avenida da Liberdade.

A acção dos comunistas - a luta, como António repete constantemente - fê-lo dar o passo de entrar para o PCP. A “ideologia veio depois e foi-se consolidando com o tempo. “Não tenho nenhuma dúvida de que estou no partido certo e que vale a pena estar neste partido”, assegura.

As comemorações dos 100 anos do PCP, que se iniciam nesta sexta-feira, têm levado António Azevedo a pensar sobre o papel dos jovens no partido. “Ser jovem num partido com 100 anos é, em primeiro lugar, uma grande responsabilidade para estarmos à altura do património histórico de intervenção do partido. Depois, há o grande orgulho de pertencer a um partido como este. E há a convicção total de que toda a discussão que o PCP teve ao longo destes 100 anos, todo o programa que foi desenvolvendo, mostra que estamos na linha certa e numa batalha certa da história”, assegura.

Hoje, o jovem comunista que está a finalizar o curso de ciência política diz que “a luta que o partido fez nos últimos 100 anos continua a fazer todo o sentido”. “Apesar de temos derrotado o fascismo, continua a haver a exploração do homem pelo homem. Isso nunca acabou. Podemos dizer que estamos num sistema diferente, mas a contradições aprofundaram-se. A riqueza concentrou-se num grupo ainda mais restrito de pessoas. Hoje, ser comunista continua a manter toda a actualidade e o programa do partido revela exactamente isso”, acrescenta.

António já viu serem-lhe colados alguns rótulos por ser comunista, mas isso é algo que não o preocupa: “Numa faculdade pequena como a minha, uma pessoa não assume só a sua ideologia, assume também uma opção de vida, uma opção política de combate. Sim, senti algum estigma, mas a luta vale muito a pena. Ao final do dia sabemos que estamos certos, por mais que nos colem determinados rótulos.”

“Que venham mais 100 anos, mais 200. Poderei já cá não estar nessa altura, mas cá estarão outros comunistas a lutar”, diz ainda, soltando um largo sorriso. Acredita que um dia o PCP vai ganhar as eleições e governar Portugal? - quer saber o PÚBLICO. A resposta sai rápida como uma bala: “Se o povo quiser.”

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