Rúben Amorim: treinador em formação e aposta na formação
Sporting pagou dez milhões ao Sp. Braga para ter o seu quarto treinador da temporada e o sexto da era Frederico Varandas.
Só por uma vez o Sporting deu mais de dez milhões por um jogador. Foi por Bas Dost (11,85 milhões) e o avançado holandês, em três épocas e picos, marcou 93 golos. Por um treinador, sem contar com indemnizações na altura do despedimento (têm sido muitas), nunca o Sporting tinha ido tão longe – e apenas dois clubes no mundo pagaram mais por um técnico, o Chelsea, 15 milhões ao FC Porto por André Villas-Boas, e o Leicester City, 10,5 milhões ao Celtic por Brendan Rodgers. Os “leões” pagaram dez milhões para fazer de Rúben Amorim o seu quarto treinador da temporada, depois de Marcel Keizer, Leonel Pontes e Jorge Silas, e deram-lhe um contrato até 2023 para “criar valor”, como frisou o presidente do Sporting durante a apresentação do treinador que foi buscar ao Sp. Braga, o sexto desde que assumiu a presidência do clube em 2018.
“Dez milhões de cláusula. Quando a puseram, comecei-me a rir: podiam pôr 20, quem é que iria pagar isto por mim?”, foi uma das frases marcantes da apresentação do técnico de 35 anos em Alvalade, que chegou a estar marcada para Alcochete, onde, durante a manhã, já conduziu o seu primeiro treino. Outra das frases marcantes surgiu quando foi confrontado com a sua condição de “fanático do Benfica”. Sem fugir à pergunta, Amorim, que representou o Benfica enquanto jogador entre 2008 e 2015, foi por outro caminho: “Sou fanático por ganhar. Defendo esta casa como defendo o Casa Pia. O meu empenho é igual no Casa Pia, no Sp. Braga B, no Sp. Braga e aqui. Não escondo o meu passado. Fui adversário várias vezes e assim também percebemos a grandeza dos clubes.”
Tenha sido ou não uma jogada de antecipação em relação a outros clubes, como deu a entender Varandas, a verdade é que Ruben Amorim chega a Alvalade com aura de vencedor, mas sem grande currículo (e sem habilitações, tal como Silas). Foi treinador-estagiário no Casa Pia durante a época passada, lançou os “gansos” para uma campanha que seria de promoção à II Liga antes de ser suspenso por infringir os regulamentos que o impediam de dar ordens para o campo durante os jogos – o castigo ao clube e a Amorim acabariam por ser revertidos.
Mais caro do que o Pavilhão João Rocha
No início desta época, foi para a equipa B do Sp. Braga, fez 11 jogos no Campeonato de Portugal (oito vitórias, dois empates e uma derrota), o suficiente para António Salvador o promover quando despediu Ricardo Sá Pinto. O que fez em 13 jogos na equipa principal dos minhotos (dez vitórias, um empate e duas derrotas, sendo que ganhou duas vezes ao FC Porto, duas vezes ao Sporting e uma ao Benfica, para além de ter conquistado a Taça da Liga) fez com que os “leões” o valorizassem ao ponto de baterem a sua cláusula de rescisão.
O “criar valor” tem a ver com a forma como Amorim irá lidar com os jogadores formados em Alcochete. Em Braga, o antigo médio reforçou a aposta em Francisco Trincão (já vendido ao Barcelona por 30 milhões) e promoveu à equipa principal o central David Carmo e o lateral Pedro Amador. Em Alvalade, terá um plantel com alguma presença de jogadores feitos na Academia. O guarda-redes Maximiamo é o único com estatuto de titular, havendo outros com presença regular (Ilori, Camacho, Pedro Mendes e Geraldes), mais toda uma equipa de sub-23 para explorar e um exército de emprestados para avaliar (entre eles, João Palhinha, um indiscutível de Amorim em Braga).
Essa será a missão de Amorim a longo prazo, e não foi por acaso que Varandas classificou este dia como o arranque da temporada 2020-21. Mas terá ainda de lidar com o que resta da presente época (11 jogos), em que o Sporting já nada tem a ganhar, mas com o objectivo mínimo de garantir uma participação europeia, por via do quarto lugar (que ocupa, com dois pontos de vantagem sobre o Rio Ave) ou por via do terceiro lugar, ocupado pelo Sp. Braga (que tem mais quatro pontos que os “leões”).
E sem ser um treinador “encartado”. Não terá o seu nome na ficha de jogo como técnico principal, não irá levantar-se do banco para dar ordens aos jogadores e não irá às “flash interviews” no final dos jogos. Custou dez milhões - mais do que o Pavilhão João Rocha, por exemplo - e é um risco que pode correr mal. “E se correr bem?”, questionou Ruben Amorim, sem medo do preço. “No fim, faremos as contas.”