Associação Comercial abandona direcção dos Amigos do Coliseu do Porto
Nuno Botelho retira o representante da Associação Comercial do Porto em solidariedade com o presidente do Coliseu, Eduardo Paz Barroso, cujo mandato não vai ser renovado.
A Associação Comercial do Porto vai abandonar a direcção da Associação dos Amigos do Coliseu. A decisão foi tomada em solidariedade com o actual presidente da organização que gere a sala de espectáculos, Eduardo Paz Barroso, que também apresentou a demissão após ter sabido pela imprensa que não será reconduzido no cargo, na próxima assembleia-geral.
Este afastamento da ACP da direcção do Coliseu não é, de todo, inesperada, tendo em conta as criticas que o líder da instituição sediada no Palácio da Bolsa, Nuno Botelho, tinha já feito ao processo de eventual concessão da sala, defendido por outro parceiros, com a Câmara do Porto à cabeça, como a melhor maneira de garantir verbas para as obras de reabilitação de que o edifício de quase 80 anos necessita.
“Tal como o nosso representante fez saber em sede própria, e já publicamente manifestamos, esta associação, por princípio, não repudia soluções que fomentem a iniciativa privada, como a que foi anunciada pelos associados institucionais [câmara, Área Metropolitana e Ministério da Cultura]. Contudo, tal proposta necessitava, como necessita, de ser densificada e concretizada entre os mais, tendo em conta as questões da gestão corrente da Associação [dos Amigos do Coliseu], os seus colaboradores e o futuro da associação”, escreve Nuno Botelho numa carta enviada a Paz Barroso.
“Não nos revemos, nem podemos aceitar a forma como este processo se encontra a ser conduzido, desconsiderando a direcção da Associação [dos Amigos do Coliseu], especialmente quando os associados institucionais têm assento permanente na direcção. Não nos revemos também, e não podemos aceitar, que o presidente da direcção [indicado pela Área Metropolitana] saiba pela comunicação social da sua substituição”, acrescenta.
Já esta tarde, em declarações ao PÚBLICO, Nuno Botelho acusou de AMP de ter sido, no mínimo, “mal-educada” com a actual direcção do Coliseu e com o respectivo presidente, cuja saída, nota, lhe chegou ao conhecimento pelo site da Câmara do Porto. “Há em todo o processo um conjunto de formalismos que não foram respeitados e que, na verdade, mais do que formalismos são atitudes devidas entre instituições que se respeitam”, insiste o presidente da Associação Comercial do Porto.
O líder da ACP continua a ter muitas dúvidas quanto à viabilidade económica de uma concessão nos termos em que foi apresentada no final de Janeiro por Rui Moreira. Na altura, recorde-se, foi dito que o privado que viesse a explorar o Coliseu - por um prazo ainda não acertado - teria de pagar as obras, orçadas em 8,5 milhões de euros, e garantir os postos de trabalho (bem como os salários dos funcionários durante os trabalhos de reabilitação, que obrigam ao encerramento da sala por dois anos). Para além disso, os Amigos do Coliseu continuariam a ter a sala disponível, vários dias por ano, para actividades como a ópera e o circo de Natal. “Não estou a ver, no mercado quem aguente estas exigências”, diz Botelho, voltando a insistir que o assunto deveria ter sido discutido entre todos os associados antes de aparecer, ainda que sob a forma de proposta, na praça pública.
A Câmara do Porto já adiantou que não pretende reagir a esta decisão da ACP. O PÚBLICO pediu também uma reacção da Área Metropolitana, que na semana passada nomeou, por unanimidade, Maria João Castro para ser sua representante na associação que desde 1995 é detentora do Coliseu. A vereadora do PS na Câmara do Porto vai suceder a Eduardo Paz Barroso, no triénio 2020-2023, cabendo agora ao Ministério da Cultura indicar um nome para a direcção e presidência. A Câmara do Porto irá propor a recondução de Nuno Lemos, membro dos corpos directivos da empresa Águas do Porto, como vogal da direcção.
Eduardo Paz Barroso, que cumpriu dois mandatos à frente do Coliseu, lamentou, ao PÚBLICO, os contornos do processo: “Não é maneira de tratar as pessoas”, queixou-se. A nomeação de Maria João Castro sem o seu conhecimento não foi, contudo, o primeiro sinal de dissonância entre as partes. Desde final de Janeiro, quando a hipótese de concessão do Coliseu do Porto se tornou pública, que Eduardo Paz Barroso sentiu trabalhar num cenário de “impasse” que lhe desagradava, e que afectou, inclusivamente, a capacidade de programação da sala para o ano em curso.