Coronavírus: FMI prevê crescimento económico mundial inferior a 2019

Num contexto de expansão do novo coronavírus à escala global, Fundo Monetário Mundial e Banco Mundial alertaram hoje para os governos investirem, antes de mais, nas pessoas: ajudar quem está doente, reforçar sistemas de saúde e conter o vírus da forma mais eficaz possível

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Kristalina Georgieva e David Malpass na conferência de imprensa desta tarde LUSA/ERIK S. LESSER

“A única coisa que sabemos, nesta altura, é que o crescimento [económico mundial] será menor do que foi o do ano passado”, afirmou esta quarta-feira Kristalina Georgieva.

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) realizou, no início desta tarde, uma conferência de imprensa conjunta com David Malpass, presidente do Banco Mundial (BM) sobre o impacto da doença Covid-19, provocada pelo vírus SARS-CoV-2.

A todos os pedidos dos jornalistas para quantificar a revisão em baixa do crescimento global – algo que a OCDE já fez esta semana, com dois cenários diferentes – mas também de alguns países em específico (nomeadamente China e Japão), veio a recusa de Kristalina Georgieva e David Malpass.

A directora-geral do FMI frisou, por diversas vezes, que o cenário de trabalho em que a organização tinha trabalhado até a semana passada – do impacto do novo coronavírus “limitado à China”, não expandido mundialmente e “completamente contido” às fronteiras daquele país, numa versão mais conservadora, “já não é válido”.

Não respondendo à questão, directa, sobre se o mundo se encaminhava para uma “contracção” económica, Georgieva preferiu explicar a mudança de atitude dos últimos dias. “Em termos de projecções, infelizmente, na última semana vimos uma mudança para o cenário mais adverso para a economia mundial”. E garantiu que nas próximas semana o FMI irá “actualizar o outlook” económico.  

O “crescimento será menor do que os níveis de 2019”, garantiu, contudo, a directora-geral do FMI, “mas ainda é incerto prever quanto” – afirmando que um terço do impacto será directo (via perturbações da cadeia de abastecimento, turismo, commodities e acesso ao crédito) e dois terços de forma indirecta. O FMI quantificou o crescimento de 2019 em 2,9%, sendo a última estimativa para 2020, realizada em Janeiro, de 3,3%.

“Temos um sistema financeiro sólido, muito mais resiliente [desde a crise financeira], mas estamos a lidar com a incerteza”. O impacto da doença, acrescentou Georgieva, é “invulgar” e os seus “efeitos ultrapassam fronteiras”.

Por isso, defendeu, há que “garantir a protecção as pessoas, tomar conta dos doentes e conter o alastrar da doença”. Os governos, sublinhou, têm que financiar área da saúde para protecção e tratamento: “damos prioridade a políticas [governamentais] direccionadas para a área da saúde, em medidas que são críticas para as pessoas – máscaras, locais de contenção e recuperação, e equipamento de protecção para o pessoal médico poder fazer o seu trabalho”, enumerou.  

Esta é uma situação “particularmente desafiante para países cujos sistemas de saúde sejam mais frágeis”, adiantando que o FMI tem uma linha de financiamento “a juros zero” para países mais pobres. Globalmente, uma linha de financiamento de “50 mil milhões de dólares [cerca de 44,85 mil milhões de euros ao câmbio actual]”, será extraordinariamente posta à disposição para as economias mais expostas à epidemia poderem combater o seu impacto. 

“O crescimento [económico] no ano passado já era lento”, acrescentou o presidente do Banco Mundial. E sobre “sobre um crescimento lento, [o impacto do novo coronavírus] é pressão adicional”. Nomeadamente para países mais pobres e cujos sistemas de saúde sejam menos robustos, relembrou.

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