Uma memória cruel de uma guerra insana
Todas as guerras são insanas, mas há algumas mais insanas do que outras. É bom que haja filmes como Mosquito, de João Nuno Pinto, para que essa ideia permaneça viva.
O rugir das feras na noite africana, o gelo do cacimbo, a “maluqueira” provocada pela malária, a solidão dos espaços vazios do Niassa e do Cabo Delgado, a escravidão dos carregadores negros, a brutalidade, o pavor e a angústia da guerra não são meros ingredientes na narrativa de Mosquito. São a própria essência da história do soldado Zacarias e, por isso, do próprio filme. Mais do que uma novela capitular com princípio, meio e fim, o que Mosquito nos pretende e consegue mostrar é em primeiro lugar os contornos de uma guerra estúpida, distante e esquecida por Portugal e pelos portugueses, sem nexo nem contexto comparável às guerras “normais”, uma guerra que entre 1914 e 1918 envolveu mais de 39 mil soldados da metrópole (e dezenas de milhares de africanos nos regimentos indígenas ou reduzidos à condição de carregadores) e matou mais de 2000 (e, pelas projecções, mais de cem mil africanos).
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