Brigitte Bardot defende Polanski: “Se tenho de o julgar, faço-o pelo seu talento e não pela sua vida privada”

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Philippe Wojazer/ REUTERs

A actriz francesa Brigitte Bardot, o rosto que em tempos encarnou a República, vem assumir publicamente o seu apoio ao cineasta Roman Polanski, dias depois do realizador franco-polaco anunciar que não iria comparecer à cerimónia dos Césares, prémios para os quais é o principal candidato com J’accuse — O Oficial e o Espião, com 12 nomeações, e que acontece na noite desta sexta-feira.

A actriz, com 85 anos, deixou no Twitter a sua mensagem para Polanski: “Ainda bem que existe Polanski para salvar o cinema da sua mediocridade. Se tenho de o julgar, faço-o pelo seu talento e não pela sua vida privada. Lamento nunca ter filmado com ele. Viva Roman”.

O cineasta, sinónimo de polémica desde que em 1977 fugiu dos Estados Unidos antes de ouvir a sentença do seu julgamento pela violação de uma menor de 13 anos, viu-se envolto em nova polémica no final de 2019. A ex-modelo e actriz Valentine Monnier contou ao jornal Le Parisien que o cineasta a tinha violado em 1975 numa estância de esqui na Suíça. Monnier, que tinha então 18 anos, decidiu quebrar o seu silêncio de quatro décadas em Novembro de 2019, quando o novo filme do cineasta, J’Accuse — O Oficial e o Espião, premiado em Veneza e bem recebido pela crítica, estava prestes a chegar às salas francesas. O cineasta fez saber pelo seu advogado que contestava “firmemente” a veracidade do relato de Monnier e que os media estão há anos a tentar fazer dele “um monstro”. “[media] Atiraram-se a mim com uma violência inaudita, e apropriam-se de cada nova falsa acusação, mesmo que seja absurda e sem substância, porque isso lhe permite reanimar essa história [de 1977]”, disse o realizador numa entrevista à revista Paris-Match no final de 2019.

J'Accuse ultrapassou o milhão de bilhetes vendidos em França, onde é um dos filmes de maior êxito do cineasta franco-polaco, e está nomeado para 12 prémios da indústria cinematográfica gaulesa. Apelando contra o voto, várias associações feministas francesas assinaram uma petição, publicada no jornal Le Parisien, e convocaram uma manifestação em frente à Salle Peyel, o local onde a cerimónia dos Césares decorrerá na noite desta sexta-feira. “Celebrar um abusador como Polanski é apoiar o sistema de impunidade para a violência masculina, e silenciar as vozes das vítimas”, argumentavam as referidas activistas: “Se violar é uma arte, dêem a Polanski todos os Césares!” 

Em entrevista por e-mail ao Ípsilon, a norte-americana Melissa Silverstein, fundadora da publicação Women and Hollywood e que esteve entre as que se manifestaram de forma veemente contra Polanski, disse não ter ficado surpreendida com o sucesso em França, e declarou-se satisfeita por ter havido protestos: “Não acredito que se possa separar a arte do artista.”

O cineasta argumenta que esses protestos deixam adivinhar que terá lugar “um linchamento público”. “Que lugar pode haver em condições tão deploráveis para um filme sobre a defesa da verdade, a luta pela justiça, ódio cego e anti-semitismo?”, questionou.

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