Bossarenova Trio estreia novo disco em Coimbra e faz digressão portuguesa
O trio composto pela cantora brasileira Paula Morelenbaum e pelos músicos alemães Ralf Schmid e Joo Kraus tem um novo disco, Atlântico, e vai estreá-lo ao vivo (e lançá-lo) esta sexta-feira em Coimbra. Em Março tocará em Ponte de Lima e no Porto.
Dez anos depois de ter sido desafiada para fazer um projecto de bossa nova com big band, na Alemanha, Paula Morelenbaum mantém o que dessa experiência ficou para o futuro: o Bossarenova Trio, onde ela, como cantora, faz equipa com dois conceituados músicos alemães, o pianista Ralf Schmid e o trompetista Joo Kraus. Com um primeiro disco editado em 2013, Samba Prelúdio, lançam agora um segundo, Atlântico. Que só conhecerá a luz do dia esta sexta-feira, no início de mais uma digressão portuguesa.
Samba Prelúdio tinha, a par de clássicos brasileiros (O morro não tem vez, Samba em prelúdio, Samba da minha terra ou Samba de Verão), juntava o prelúdio op 28 n.º 4 de Chopin com Insensatez ou o Orfeo de Monteverdi com A Felicidade (ambas de Jobim e Vinicius). E incluía outros temas clássicos, como a Serenata de Schubert ou Clara, de Schumann, ambos com letra em português de Arthur Nestrovski, dois temas de Villa Lobos e um original, composto pelo trio, com poema de Eucanaã Ferraz. Mas Atlântico vai noutra direcção, diz Paula Morelenbaum ao PÚBLICO, de passagem por Lisboa:
“Este disco já é uma outra onda. Em Samba Prelúdio, a gente estava misturando uma música popular brasileira, que podia vir a ser a clássica, com a música clássica alemã. Foi assim que a gente começou. Agora a gente sai desse encontro de culturas, clássicas, para uma outra geração de músicos de depois da bossa nova.” Desta, o disco só tem um tema, de Tom Jobim, Samba de uma nota só. “Mas com um arranjo totalmente diferente. E os arranjos são interessantes porque são do grupo, de nós três. Até eu, que não escrevo música, dou também os meus palpites. O contexto geral é esse, é nosso.”
Mais samba, mais dançante
Que compositores foram buscar? “Edu Lobo, Marcos Valle, Egberto Gismonti. Uma coisa mais moderna, mais samba, mais dançante. Mas há também uma música francesa, Que rest-t-il de nos amours, de Charles Trenet, ou The man I love, de George & Ira Gershwin. Eu adoraria gravar uma música alemã, mas não conheço nada, a não ser as clássicas que nós fizemos no disco anterior, que seja tão incrível como a francesa Que rest-t-il ou a americana The man I love. Mas o nosso encontro está nessas músicas.”
O disco foi já testado em alguns concertos na Europa, em 2019, apenas alguns temas. “Mas como agora vamos fazer, não fizemos ainda. Oitenta por cento do disco vai ser apresentado no show e o resto será de outros discos.” A estreia será esta sexta-feira em Coimbra, no Convento São Francisco, às 21h30, seguindo-se, a 6 de Março, Ponte de Lima (Teatro Diogo Bernardes, 22h) e a 7 o Porto, na Casa da Música (sala 2, 21h30).
Novas bossas novas em disco
A par de seu trabalho com o Trio, Paula Morelenbaum tem vindo a colaborar noutros projectos nestes anos. Um deles foi um disco em homenagem a Tom Jobim, gravado ao vivo em Itália, em 2016, com Jaques Morelenbaum (seu marido) e o CelloSam3aTrio.
Mas agora está a preparar um disco novo, seu. “É um projecto que já tenho em mente há muito tempo, que seriam novas bossas novas. De novos compositores que amam a bossa nova e que fariam músicas especialmente para esse projecto. O Moreno Veloso tem umas coisas muito bonitas, o Vinicius Cantuária também, o José Miguel Wisnik tem temas lindíssimos, e todas essas composições têm alguma coisa a ver com a bossa. O próprio José Miguel, que é paulista, quando compõe essa música, viaja, se transporta para o Rio de Janeiro, para essa atmosfera que a bossa nova tem. Porque eu acho que a bossa nova pode continuar existindo eternamente, desde que mantenha a sua essência.”
Um toque vindo de fora
Voltando ao Bossarenova Trio, com o qual Paula continuará a trabalhar no futuro, há um elo que lhes dá a necessária consistência musical. “Acho que o que nos une é exactamente essa amor pela música brasileira, que eu tenho naturalmente, mas eles também têm. E foi isso que me encantou neles, entenderem a música brasileira. O Ralf é professor de piano, e sabe muito, e o Joo é um músico fantástico. E temos essa química, que está funcionando esses anos todos.” Este disco, diz Paula, é um desenvolvimento dessa parceria. “Acho interessante o toque que eles dão à música brasileira, que a faz sair daquele nicho brasileiro. E isso, para mim, é muito importante. Porque eu viajo muito, estou em vários lugares sempre, e adoro essa percepção da música, de fora.”