Condutor em acidente fatal da Tesla com piloto automático estava a jogar no telemóvel
As autoridades pedem que os fabricantes de telemóveis, fabricantes de automóveis e reguladores criem regras mais rígidas para prevenir condução distraída em carros equipados com tecnologia de assistência à condução.
O condutor de um Tesla que morreu em 2018 num acidente quando seguia no carro com o piloto automático ligado estava no meio de um videojogo no telemóvel quando a colisão ocorreu.
A informação foi revelada esta semana pelo Departamento Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA (NTSB, na sigla em inglês), na sequência de uma investigação de dois anos às circunstâncias do acidente ocorrido Março de 2018, que na altura veio lançar dúvidas sobre este tipo de tecnologia. A conclusão daquela agência norte-americana é que embora um erro do piloto automático da Tesla esteja na origem no acidente, o condutor e única vítima da colisão, Walter Huang, também teve parte da responsabilidade.
A colisão fatal aconteceu quando o Tesla se desviou para a zona que dividia a faixa principal e a faixa de saída da auto-estrada onde seguia, acabando por embater numa protecção e, depois, noutros dois carros. De acordo com a análise do NTSB, Wualter Huang, o engenheiro da Apple com 38 anos que seguia no carro não fez qualquer tentativa de impedir o acidente e estava a meio de um videojogo no telemóvel.
“Se são donos de um carro com automação parcial, não são donos de um carro completamente autónomo. Por isso não finjam que são”, disse o presidente da NTSB, Robert Sumwalt, na divulgação dos resultados. “Isto quer disto quer dizer que quando conduzem com o suposto piloto automático ligado não podem dormir. Não podem ler um livro. Não podem ver um filme ou um programa de televisão. Não podem mandar mensagens. E não podem jogar videojogos. E foi precisamente isso que descobrimos que o condutor estava a fazer.”
Entre outras funcionalidades, o piloto automático do Tesla era capaz de controlar a velocidade do veículo, mudar de faixa e fazer travagens. O sistema incorpora uma funcionalidade de cruise control, capaz de abrandar e de manter uma distância predeterminada face a um veículo mais lento que esteja à frente.
A NTSB considera que o caso do Tesla tem semelhanças com outros acidentes com carros semi-autónomos. Em mais do que uma ocasião, a falha dos condutores humanos em assumir a condução em veículos semi-autónomos resultou em acidentes com vítimas mortais. Em 2018, por exemplo, conclui-se que o atropelamento mortal de uma mulher de bicicleta por um carro autónomo da Uber podia ter sido evitado se a condutora não seguisse distraída.
Um estudo de 2019 da Associação Automobilística Americana (AAA) também revelou que os condutores que usam tecnologia de assistência avançada ao condutor têm mais probabilidade de conduzir distraídos, do que condutores em carros sem a tecnologia.
A Tesla ainda não se pronunciou sobre as conclusões da NTSB, mas a fabricante tem insistido repetidamente que a tecnologia de piloto automático aumenta a segurança dos veículos. No relatório referente aos últimos três meses de 2019, a empresa registou um acidente por cada 4,8 milhões de quilómetros. “Embora nenhum carro possa prevenir todos os acidentes, trabalhamos todos os dias para o tornar muito menos provável”, escreve a Tesla na introdução dos relatórios trimestrais.
Para a NTSB, no entanto, é essencial que as fabricantes de carros autónomos, as fabricantes de telemóveis, e os reguladores façam mais para prevenir acidentes causados por uso indevido de tecnologia enquanto se está a conduzir com o piloto automático ligado. O departamento norte-americano também recomenda que empresas como a Apple “implementem uma política que proíba o uso de dispositivos electrónicos portáteis” para todos os funcionários quando estão a conduzir, salvo em situações de emergências.
O aumento da segurança nas estradas é das maiores promessas dos carros autónomos, mas a tecnologia ainda depende bastante do ser humano. Em 2016, a radiotelevisão alemã Deutsche Welle noticiou que os reguladores alemães estavam a pedir a fabricantes como a Tesla para parar de usar o termo “piloto automático”, porque tal sugere a existência de uma tecnologia mais avançada do que a real.
A autonomia dos carros é geralmente categoriza em cinco níveis que vão do zero ao cinco: no primeiro (nível zero), o condutor é o único responsável por controlar o veículo, enquanto no segundo (nível um) o carro já ajuda o condutor através da tecnologia de cruise control (mantém o veículo a uma velocidade programada, mesmo quando o condutor já não tem o as mãos no volante). Apenas no nível cinco – que ainda não está disponível em carros no mercado – é que a autonomia é completa e o volante desaparece. A maioria dos carros com autonomia actualmente disponíveis ronda o nível três, em que o condutor não tem de estar sempre atento à estrada, mas tem de estar sempre pronto para intervir.