Fake news: o “perigo que todos podemos combater”

Na segunda palestra do PSuperior, falou-se do papel que jornalistas e leitores podem assumir na luta contra a disseminação de notícias falsas.

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A segunda palestra do PSuperior aconteceu na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, esta quinta-feira Tiago Lopes
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Foram debatidos o alcance das fake news e o que podemos fazer para as combater Tiago Lopes
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António Augusto Fontaínhas Fernandes, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Tiago Lopes
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Fábio Fonseca Ribeiro, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Tiago Lopes
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Ivo Neto, jornalista do PÚBLICO Tiago Lopes
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Carlos Eugénio, secretário-geral adjunto da Associação Portuguesa de Imprensa e membro do projecto Media Veritas Tiago Lopes
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Pedro Cunha, aluno da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Tiago Lopes

As fake news, explica Fábio Fonseca Ribeiro, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), “não são novas”, mas nunca terão tido “esta dimensão avassaladora”. São um fenómeno “complexo”, acrescenta Manuel Carvalho, director do PÚBLICO. Têm um efeito “pernicioso na destruição da confiança”. Envolvem tecnologia, informação e poder. São uma “questão muito importante para o nosso futuro” – que “já é muito importante para o nosso presente”. São um problema “dos jornalistas, mas também de todos os que querem viver numa sociedade aberta e plural, onde somos iguais perante a lei”. Como conseguem jornalistas, empresas e leitores confrontar este “perigo que todos podemos combater”? Foi a questão que norteou a segunda palestra da iniciativa PSuperior, esta quinta-feira, na UTAD.

Fábio Fonseca Ribeiro salienta que há algo de “fascinante” na mentira. Não é por acaso, lembra, que estudos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts apontam para o potencial de partilha “exponencial” de notícias falsas, habitualmente bem maior que o de histórias verídicas. Mesmo “os grandes meios de comunicação”, acrescenta, revelam dificuldade em lidar com fake news. Às vezes, “caem na mentira” – e “é claro que a famosa pressa de ‘dar primeiro’ não ajuda”. É por este motivo que o professor aplaude a existência de “cursos tecnológicos que podem ajudar a combater” uma disseminação “irreflectida” de notícias falsas. “Se as tecnologias ajudaram a emancipar” as mesmas, também conseguem “ajudar a condená-las”.

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Manuel Carvalho, director do PÚBLICO, moderou a conversa Tiago Lopes
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A segunda sessão do PSuperior decorreu na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Tiago Lopes

Na palestra organizada pelo PÚBLICO, o docente deu os exemplos da Checazap e do NewsGuard. O primeiro corresponde a um projecto desenvolvido por alunos da Escola de Jornalismo da Énois, em São Paulo, pouco antes da eleição de Jair Bolsonaro. O objectivo dos criadores passava pela realização de verificações de “notícias falsas com impacto político eleitoral” que eram partilhadas nos grupos de WhatsApp aos quais estavam associados. O segundo é uma extensão de navegador que, clarifica Fábio Fonseca Ribeiro, “dá um alerta” ao utilizador sempre que este abre conteúdos “cuja veracidade é mais duvidosa”. Basicamente – e apesar de, para já, estar “reservado ao contexto norte-americano” –, estamos a falar de um “medidor geral de confiabilidade”.​

Ferramentas que podem facilitar o consumo inteligente de notícias nas redes sociais – um terreno no qual, explica o jornalista Ivo Neto, do PÚBLICO, “impera a emoção”. Na esfera digital, considera o professor no ISMAI, “vivemos em bolhas”. “Seguimos aquilo com que concordamos”, ao mesmo tempo que, no sentido inverso, nos distanciamos “do que nos afronta”. “Gostamos que nos massajem o ego” – e criamos uma “mentalidade perigosa de ‘nós contra eles’, que quase deixa de parte a racionalização”. Isto cria problemas como a “guerrilha de conteúdos”: lados opostos da barricada aos gritos, embora não necessariamente a discutir ou dialogar. Cenário potencialmente perfeito para a proliferação da mentira.

"Responsabilização das instituições"

Como podemos fazer frente a esta situação? Ivo Neto sugere, a título de exemplo, a “responsabilização das instituições”. Se calhar, as “empresas deviam deixar de pagar publicidade a plataformas com conteúdo duvidoso”, validando-as ou permitindo a sua manutenção. Se calhar, por outro lado, falta treino para conseguirmos ler as notícias “com olho crítico”. O secretário-geral adjunto da Associação Portuguesa de Imprensa, Carlos Eugénio, sente que pode oferecer um contributo importante no que diz respeito a este último ponto.

O responsável faz parte do Media Veritas, um “programa de luta contra a iliteracia mediática, manipulação jornalística e desinformação”. “Queremos fazer do projecto um repositório com tudo o que se faz no nosso país em termos de investigação sobre notícias falsas”, esclareceu na sessão do PSuperior, deixando à plateia o repto: “antes de partilharem alguma coisa nas redes sociais, pensem bem no que acabaram de ler.”

A próxima palestra do PSuperior acontece a 11 de Março, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. “Conseguirá o Estado de Direito sobreviver ao populismo?” é a questão que vai lançar a conversa. O objectivo desta iniciativa passa por promover a literacia mediática nos estudantes universitários. O propósito é não apenas formar os jovens, levando-os a consumir jornalismo, mas também envolvê-los em causas cívicas.

Texto editado por Pedro Sales Dias

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