O pecado da palavra

Reflexão sobre um tema que divide a sociedade. Simples civismo para uns, para outros ameaça de censura. Com opiniões e exemplos nacionais pelo meio.

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Vários exemplos, uns dramáticos, outros ridículos, do policiamento da linguagem surgem incluídos na obra de Manuel Monteiro Daniel Rocha

Tenho para mim que o momento em que o Politicamente Correcto (PC) passa de half way decent idea para algo completely wrong (usando a adjectivação do humorista John Cleese) dá-se em Janeiro de 2015, com a tragédia do Charlie Hebdo. As reacções à mortandade, se unanimemente condenatórias, não deixariam de evidenciar algumas nuances que, na verdade, já se haviam feito notar em 2005, por altura da publicação, pelo jornal conservador Jyllands-Posten, das caricaturas de Maomé. Entre nós, o colunista Daniel Oliveira criticou com veemência os dinamarqueses: “Qual a fronteira exacta entre a crítica ao fundamentalismo religioso e o insulto gratuito e permanente a uma cultura?” Lá fora, ao invés, o filósofo Fernando Savater ironizava no El País: “Jean Daniel [jornalista recentemente falecido fundador do Nouvel Observateur] informou-nos (…) que aceita a blasfémia sempre que acompanhada de bom gosto e dignidade artística: ele é daqueles que apenas apreciam stripteases quando são feitos ao som de Mozart”. No caso trágico do Charlie Hebdo, se ninguém chegou a escrever — puseram-se a jeito! — após a consternação geral, o Papa avisou: “Não se pode provocar nem insultar a fé das outras pessoas”.

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