O Ministério da Ciência celebra os seus 25 anos
Ao longo de todo o ano, haverá debates, concertos, exposições e a edição de vários livros.
Foi em 1995 que se criou pela primeira vez em Portugal um Ministério da Ciência e da Tecnologia, liderado por José Mariano Gago (1948-2015) num Governo de António Guterres. O programa das comemorações dos 25 anos do Ministério da Ciência foi apresentado nesta quarta-feira no Museu Abade Baçal, em Bragança, pelo actual ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor: ao longo do ano haverá debates, conferências, concertos, exposições e ainda a reedição das primeiras edições publicadas em Portugal de oito obras relevantes na promoção da cultura científica e que serão distribuídas nos quiosques com o PÚBLICO.
A 13 de Novembro de 1995, José Mariano Gago dava a sua primeira entrevista ao PÚBLICO como (o primeiro) ministro da Ciência e da Tecnologia – entre vários temas, abordava-se a criação de condições para uma avaliação independente e internacional dos centros de investigação, a cooperação científica internacional e a futura adesão de Portugal à Agência Espacial Europeia, a transformação da então Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) na ainda hoje existente Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a quase ausência de investigação científica nas empresas, a necessidade de uma política de emprego científico ou um verdadeiro orçamento para a ciência e a tecnologia.
“A produção de conhecimento científico, nas sociedades modernas, segue dois modos distintos: um modo académico, disciplinar, e um modo transversal, negociado e implicado social e economicamente”, dizia então Mariano Gago. “Em todos estes domínios, o Estado tem o dever de conduzir e decidir. Como representante do interesse público, ele é o principal ‘cliente’ do conhecimento produzido.” Pode ler-se aqui a entrevista na íntegra.
Mariano Gago morreu em 2015, deixando como grande legado a inclusão da ciência da agenda política, uma pasta que até aí estava diluída noutros ministérios. Como ministro da Ciência, desenvolveu o sistema científico português, incluindo um aumento do financiamento, instituiu avaliações internacionais à ciência que se faz em Portugal, tornou o país membro de grandes organizações científicas europeias e promoveu a cultura científica junto da sociedade com a criação da agência Ciência Viva. Fez da ciência portuguesa o que ela é hoje.
Agora em Bragança, no âmbito da iniciativa “Governo Mais Próximo”, que incluirá um Conselho de Ministros descentralizado, deu-se o pontapé de saída da comemoração dos 25 anos de um Ministério para a Ciência no país. “O desenvolvimento da nossa capacidade científica e tecnológica durante as últimas décadas representa hoje uma nova realidade para valorizar Portugal e os portugueses no mundo”, diz Manuel Heitor no texto de apresentação das comemorações. “Podemos hoje afirmar que a aposta no conhecimento tem de ser o nosso compromisso para o futuro e requer instituições científicas fortes, autónomas e abertas à formação, ao emprego científico, à criatividade e às novas fronteiras do conhecimento, de modo a fazermos face aos novos desafios societais, financeiros e culturais que emergem em Portugal e na Europa.”
Oito obras entre 1537 e 1963
Além da conferência “Ciência e Espaço – Que Futuro?”, nesta quarta-feira em Bragança apresentou-se também a colecção de oito livros Ciência É Conhecimento, cujo comissário é o alfarrabista Luís Gomes, da livraria Artes & Letras, em Óbidos. É esta colecção que o PÚBLICO irá levar até aos quiosques em co-edição com a editora A Bela e o Monstro. Eis a lista da reedição em fac-símile da primeira edição em Portugal das oito obras:
- Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos, de Antero de Quental (1871);
- Da Educação, de Almeida Garrett, (1829);
- Origem das Espécies, de Charles Darwin, traduzida por Joaquim da Mesquita Paúl (1900);
- Teorias de Einstein: O Princípio de Relatividade Restrita, de Mário António da Cunha Mora (1922);
- Vida, Espírito e Matéria, de Erwin Schrödinger, traduzida por Germano da Fonseca Sacarrão e S. de Miranda (1963);
- Coloquios dos Simples, e Drogas he Cousas Mediçinais da India, de Garcia de Orta (1563);
- Tratado da Sphera com a Theorica do Sol e da Lua, de Pedro Nunes (1537);
- Da Terra à Lua, Viagem Directa em 97 Horas e 20 Minutos, de JúlioVerne, traduzida por Henrique de Macedo (1878).
Depois de Bragança, seguir-se-ão conferências e debates pelo resto do país: Faro (“Religião e Migrações: Ciência e Humanismo”); Óbidos (“O Digital e as Pessoas: Ciência e Conhecimento?”); ou Évora (“Acção Climática e Equidade: Ciência e Biodiversidade?”).
Arte e ciência
No vasto programa há ainda a publicação de outros livros, como Ciência e Tecnologia em Portugal, 1995-2020 – Construir o Futuro através de Redes de Oportunidade, coordenado por Manuel Heitor e Dulce Anahory, ou a exposição Turbulence – The Voice of Space, comissariada pelo físico Luís Oliveira e Silva, do Instituto Superior Técnico, e que usará dados brutos de simulações numéricas e os transformará artisticamente em imagens, vídeos, sons e experiências de realidade virtual.
A ciência continuará a unir-se à arte em várias iniciativas. No Teatro Thalia, em Lisboa, o concerto “Shakespeare e a Ciência – To Play or Not to Play”, concebido por João Fernandes, Marta Araújo e Marcos Magalhães, apresentará excertos de peças de Shakespeare acompanhados por excertos de obras musicais de vários compositores. Ainda no Teatro Thalia decorrerá a iniciativa “Ópera e Conferência”, que continuará a juntar música e ciência num debate para assinalar os 500 anos do nascimento do músico italiano Vincenzo Galileu (1520-1591), pai de Galileu Galilei, e numa gala de ópera por solistas da Ópera Estatal de Berlim, tendo como comissário Filipe Pinto-Ribeiro, do DSCH – Schostakovich Ensemble. Filipe Pinto-Ribeiro é também o comissário do ciclo de concertos comentados “Escalas do Tempo”, em Lisboa, Coimbra e no Porto.
As comemorações dos 25 anos do Ministério da Ciência terminarão a 24 de Novembro, o Dia Nacional da Cultura Científica, instituído por Mariano Gago no aniversário do nascimento de Rómulo de Carvalho/António Gedeão (1906-1997).