Português com coronavírus visitado por médico que garantiu transferência para um hospital amanhã

Adriano Maranhão criticou Marcelo por colocar de parte vinda para Portugal. “Esta manhã o comandante disse que há 64 pessoas em isolamento com teste positivo”, contou ao PÚBLICO. Direcção-Geral da Saúde já confirmou transferência.

,Portimonense SC
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Reuters/Athit Perawongmetha

O português de 41 anos que está infectado com coronavírus, e que ficou em isolamento no navio Diamond Princess, atracado no Japão, será enviado na próxima madrugada para um hospital de referência local, anunciou esta segunda-feira a directora-geral da Saúde, Graça Freitas.

Adriano Maranhão já tinha tido a garantia de que seria transferido para um hospital na zona na tarde desta terça-feira, quando foi visto por um médico japonês, mas a saída do navio foi antecipada. “Mediu a parte respiratória e disse-me que está com bons níveis, descansou-me”, contou ao PÚBLICO. "Disse que, se ao fim de 14 dias continuar com estes sintomas, poderei regressar a Portugal. Pediu-me para manter a calma. A febre está nos limites”. 

O médico, que lhe transmitiu aquela informação pelas 10h em Lisboa, retirou-lhe ainda a medicação que estava a tomar, paracetamol. Adriano Maranhão estava a falar ao PÚBLICO através de Messenger, numa zona ao ar livre reservada para quem está infectado. “O comandante deu duas horas para circularmos um bocado, das 20h às 22h”. Usam máscaras e luvas. Na tarde desta segunda-feira, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) confirmou que Adriano Maranhão será enviado para um hospital de referência local, o que deverá ocorrer na próxima madrugada (hora de Lisboa) — informação que foi transmitida à DGS pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que tem representantes a seguir a situação no local.

Na manhã desta segunda-feira, o português criticou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por ter afastado a hipótese de o trazer para Portugal. “Foi um choque receber essa notícia”, disse. “Como português gostava de ver e abraçar a minha família. Não estou a ver um bom final para esta situação, não sei se o meu estado de saúde se vai agravar, e o Presidente está-me a deixar ao abandono com essa declaração”. 

O gabinete da presidência diz que não comenta. Esta segunda-feira Marcelo Rebelo de Sousa falou duas vezes com a esposa de Adriano Maranhão.

Adriano Maranhão diz que a febre tem variado ao longo do dia, subindo acima dos 37º C, e sentia-se cansado, mas não registava outros sintomas que o aconselharam a vigiar, como tosse ou diarreia. Febre, tosse, cansaço e falta de ar são os sintomas do COVID-19 referidos no site do Serviço Nacional de Saúde. 

No domingo, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: "Trazê-lo para Portugal podia ser uma temeridade para ele. Não vale a pena correr esse risco”. Questionado sobre os riscos que correria com a viagem, Adriano Maranhão, natural da Nazaré, referiu que “seria a mesma situação que aqui, ficaria em isolamento, não vejo que tenham capacidade para albergar mais casos destes porque estão sobrelotados”.

Numa nota enviada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros há dois dias referia-se que estavam a “insistir junto das autoridades locais para que se proceda à sua transferência para o hospital de referência” no Japão.

O português é até agora o único a bordo do navio a quem o teste do coronavírus deu positivo – foram registados mais quatro cidadãos de nacionalidade portuguesa na embarcação, colocada em quarentena há mais de três semanas, mas os testes foram negativos nesses casos. Adriano Maranhão diz que foi contactado via e-mail pela embaixada portuguesa, que lhe comunicou estar, com as autoridades japonesas, à procura de uma unidade hospitalar para onde o transferir. O português disse também que um outro cidadão português a quem o teste deu negativo saiu do navio.

Adriano Maranhão diz que ficou mais descansado com a hipótese de sair do navio e ser transferido para um hospital. “Mas estou preocupado para saber como vai ser a próxima fase.”

Refere também que apenas no dia 6 de Fevereiro, dois dias depois de decretada a quarentena, é que começaram a usar a máscara e apenas dia 8 lhes foram entregues as luvas. Tem passado os dias na cabine, que tem 2,5 metros quadrados, e apenas saiu para ir ao posto médico buscar paracetamol, a 200 metros de onde está. Três vezes por dia batem-lhe à porta para entregar as refeições. Não consegue ficar a ver televisão, nem distrair-se senão com o telefone. Fala com os “colegas portugueses” que estão no navio ou com os media e a família. “Esta manhã o comandante disse que há 64 pessoas em isolamento com teste positivo”.

Segundo referiu, a mulher recebeu chamadas das autoridades portugueses, nomeadamente do Presidente da República e da ministra da Saúde. “Não conheço nada deste vírus, sinto-me muito em baixo com a situação.” 

Segundo afirmou, há quatro dias que está em isolamento. “A gente não sabe quem está contaminado, isto não se demonstra na cara das pessoas. Os portugueses que estavam comigo também não sabiam que eu estava positivo nem eu sabia.” 

A trabalhar com o Diamond Princess há cinco anos, e a bordo daquele navio há três meses, Adriano Maranhão está a reconsiderar se irá voltar algum dia a embarcar depois disto: “Não compensa estar longe da família e acontecer uma coisa assim. A vida tem mais valor”. Por agora, quer “sair o mais rapidamente possível” dali. 

Outro dos portugueses que está no Diamond, Helder Vigia, que não está infectado, trabalha na área de ventilação e diz que andam com máscaras e luvas no navio. “Vou buscar o almoço, trago para a cabine, almoço. Às 14h apresento-me ao trabalho e o meu chefe manda-me de novo para a cabine.” Tem falado ao telefone com Adriano Maranhão. Apesar de terem sido adoptadas todas as medidas de segurança, ainda não foram visitados por um médico. “Estamos ansiosos”.

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