Há quem argumente que falar de uma década é apenas uma forma preguiçosa assinalar uma data redonda. Apesar disso, considero que há alguma utilidade em, precisamente, aproveitar estas datas — que fazem uma certa coerência na forma de organizarmos o nosso pensamento — para reflectir e fazer um balanço de algumas tendências. Talvez ajude fazer um exercício de compreensão mais amplo e não apenas listar filmes. E, como balanço, comecemos por dizer que a década de 2010 foi de grande relevância para o cinema português e para aquilo em que ele se transformou. Sabemos, à partida, que as mudanças não se fazem de um momento para o outro: elas são parte de um lento movimento do mundo. Por isso mesmo, há, na minha opinião, um momento charneira que extravasa a década a que nos referimos: à entrada do novo século surgiram uma série de novos valores nas curtas-metragens (as “Gerações Curtas”, termo que Augusto M. Seabra cunhou em 1999), e um filme revolucionário, espécie de entrada numa porta (e num quarto) em que o cinema pouco tinha explorado: No Quarto da Vanda, de Pedro Costa, estreado em 2000. As ondas de choque destes fenómenos produziram efeitos que até hoje dominam o cinema português.
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