Morreu Katherine Johnson, a matemática da NASA que ajudou a levar os humanos à Lua
O génio matemático de Johnson (1918-2020) levou-a do seu trabalho nos bastidores e das instalações segregadas da NASA à fama, apesar de terem sido necessárias décadas para que o seu talento fosse publicamente reconhecido.
Katherine Johnson, a mulher negra que desempenhou um papel chave no programa Apolo, que levou a humanidade até à Lua, morreu esta segunda-feira com 101 anos, anunciou a agência espacial norte-americana NASA.
O génio matemático de Johnson levou-a do seu trabalho nos bastidores e das instalações segregadas da NASA à fama, apesar de terem sido necessárias décadas para que o seu talento fosse publicamente reconhecido.
“A família da NASA lamenta a morte de Katherine Johnson”, escreveu o administrador Jim Bridenstine no Twitter. “Era uma heroína americana e o seu legado pioneiro nunca será esquecido.”
Johnson recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade das mãos do Presidente Barack Obama em 2015 e em 2016 foi citada no discurso do Estado da União como um exemplo do espírito pioneiro da América.
Johnson e as suas colegas negras da NASA eram conhecidas como “computadores”, numa altura em que o termo não designava uma máquina mas sim as pessoas que faziam cálculos. A sua história e o seu contributo eram praticamente ignorados pelo grande público até serem contados em livro – a obra foi depois adaptada ao cinema na película Elementos Secretos, nomeada para o Óscar de Melhor Filme.
Ao longo dos 33 anos em que esteve na NASA, Johnson trabalhou nos programas Mercury e Apolo, incluindo na missão que levou Neil Armstrong à Lua em 1969. Mas todo esse trabalho era feito em instalações separadas dos colegas brancos, com casas de banho e cantinas segregadas.
Desde criança que Johnson era fascinada por números. Cresceu na Virgínia Ocidental, numa altura em que as oportunidades de educação eram limitadas para negros, devido à segregação racial. Mas a sua mãe, uma ex-professora, e o seu pai, um agricultor, valorizavam a educação, e mudaram-se com a família para uma vila a cerca de 190 quilómetros, que tinha uma escola secundária para crianças negras.
As aptidões de Johnson para a matemática abriram-lhe a porta do Colégio Estadual da Virgínia Ocidental aos 15 anos. Fez o programa de matemática da escola, diplomando-se em matemática e francês antes de se tornar uma das primeiras estudantes negras numa pós-graduação na Universidade Estadual da Virgínia Ocidental em 1938.
Após dar aulas durante sete anos, Johnson foi trabalhar para o National Advisory Commitee for Aeronautics, precursor da NASA, em Hampton, em 1953, com dezenas de outras mulheres negras.
Johnson encontrou-se num campo constituído quase exclusivamente por homens brancos, quando foi escolhida para ser parte da equipa que deu apoio à missão de 1961, que fez de Alan Shepard o primeiro americano no espaço. Acabaria por calcular trajectórias de foguetões, janelas de oportunidade de lançamentos espaciais e rotas orbitais.
Johnson fez a transição para a era dos computadores e trabalhou no programa espacial, tudo enquanto escrevia ou era co-autora de 26 relatórios de investigação, antes de se reformar em 1986, segundo a NASA. A contribuição sua de que mais se orgulhava era a primeira missão à Lua, que incluiu os cálculos que sincronizaram o módulo lunar Eagle e o módulo de comando que ficou em órbita.
Johnson e o seu primeiro marido, James Goble, que morreu em 1956, tiveram três filhas. Casou posteriormente com o tenente-coronel James Johnson em 1959.
“É uma das maiores mentes que alguma vez agraciou a nossa agência ou o nosso país”, elogiou o então administrador da NASA, Charles Bolden, quando entregou a Johnson a Medalha Presidencial.
Em 2016, a NASA deu o seu nome a um centro de investigação na sua terra natal de Hampton, na Virgínia, e um ano mais tarde, a sua universidade, a Universidade Estadual da Virgínia Ocidental, assinalou o seu 100.º aniversário em Agosto de 2018, ao criar uma bolsa em seu nome e erguer-lhe uma estátua.