Senador do Ceará baleado ao tentar invadir quartel tomado por polícias amotinados

Cid Gomes, irmão do ex-candidato à presidência do Brasil Ciro Gomes, não corre perigo de vida, mas o ministro Sérgio Moro enviou a Força Nacional de Segurança Pública para o Ceará a pedido do governador do estado.

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Cid Gomes foi atingido em Sobral, a cidade que é o feudo histórico da sua família Marcos Oliveira/Agência Estado

O senador brasileiro Cid Gomes foi baleado na noite de quarta-feira na cidade de Sobral, no estado do Ceará, quando avançava com uma retroescavadora contra um portão de um quartel da Polícia Militar que tinha sido tomado por agentes amotinados, que protestam contra uma reestruturação das forças de segurança lançada pelo governador Camilo Santana, do Partido dos Trabalhadores (PT).

Cid Gomes é irmão do ex-candidato presidencial Ciro Gomes, e a cidade de Sobral, a cerca de 270 km de Fortaleza, é o bastião histórico da sua família. Segundo Ciro Gomes, o seu irmão levou dois tiros esta madrugada e está internado, mas não corre risco de vida. Uma das balas entrou pela clavícula e outra atingiu o pulmão esquerdo, disse o Hospital do Coração de Sobral, para onde o senador foi inicialmente transportado. Cid deverá ser transferido para Fortaleza esta quarta-feira, de acordo com o jornal cearense O Povo

Esta quarta-feira, uma força combinada entre a polícia de choque e a Polícia Militar retomou o controlo sobre o quartel que tinha sido ocupado pelos grevistas, que fugiram antes da investida.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou que seja enviada para o estado nordestino do Ceará a Força Nacional de Segurança Pública, um corpo formado por elementos da Polícia Militar de vários estados do Brasil, com quartel-general em Brasília, e criado em 2004, durante a presidência de Lula da Silva. Foi o governador Camilo Santana, que embora seja do PT governa com o apoio de um larguíssimo espectro partidário, que pediu o reforço de segurança no seu estado. No início de 2019, a Força de Segurança Nacional também foi enviada para o Ceará, para conter uma onda de violência entre grupos de narcotráfico, coordenada a partir das prisões.

O Ceará não é, no entanto, o único estado brasileiro em que os governadores estão em confronto com a polícia por questões salariais ou relativas às condições de trabalho. Há movimentos sindicais de polícias que exigem aumentos de salário em pelo menos outros sete estados - a tensão é alta também na Paraíba, outro estado do Nordeste, onde a polícia fez já uma “paralisação de advertência” e pode voltar a fazer greve durante o Carnaval.

Apesar de a lei brasileira proibir a greve de funcionários das forças de segurança, os sindicatos sentem ter o apoio sólido do Governo de Jair Bolsonaro, que tem nas polícias um dos principais esteios de popularidade e reforçam as suas exigências. Na Paraíba, por exemplo, a polícia quer um reajuste salarial de 24% ao longo de três anos, e a incorporação no salário da bolsa-desempenho, um prémio que chega a 45% do valor dos vencimentos para os que fazem serviço na rua, descreve o jornal Folha de São Paulo.

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A tensão entre polícias e governo também se cruza com o ambiente pré-eleitoral vivido no Brasil, onde em Outubro se realizam eleições municipais. O centro da disputa no Ceará é a capital, Fortaleza, município actualmente governado por Roberto Cláudio, do mesmo partido que os irmãos Gomes, mas que atingiu o limite de mandatos. Cid Gomes é um dos pré-candidatos à sua sucessão e terá provavelmente como principal adversário o deputado federal Capitão Wagner, um ex-capitão da Polícia Militar muito próximo dos sindicatos policiais e que os representou nas negociações com o governo estadual.

Confronto nas redes

Cid Gomes, que está de licença do Senado para fazer campanha para as eleições municipais, chegou a Sobral a fazer um discurso contra a paralisação e os protestos da Polícia Militar, conta O Povo, e antes mesmo de chegar tinha convocado a população a ir esperá-lo ao aeroporto, através das redes sociais. “Quem tem direito de andar armado não pode, pela nossa Constituição, fazer greve”, afirmou. O senador mostrou que estava desarmado e chamou “bandidos” aos polícias amotinados.

Deslocou-se ao quartel que tinha sido tomado pelos agentes da polícia militar em protesto, deu-lhes “cinco minutos” para saírem, sempre segundo o relato de O Povo, e como não saíram, foi buscar uma retroescavadora, com a qual se propôs arrombar o portão. Foi então que foi baleado. Um vídeo divulgado esta quarta-feira pela imprensa brasileira mostra um homem de capacete a disparar uma arma na direcção do senador.

Cid e Ciro são reconhecidamente dois políticos de sangue quente. Um dos filhos do Presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, foi para as redes sociais criticar a acção de Cid Gomes. “É inacreditável que um senador da república lance mão de uma atitude insensata como essa, expondo militares e familiares a um risco desnecessário em um momento já delicado”, declarou no Twitter.

O bate-boca virtual foi inevitável, com a resposta de Ciro Gomes: “Deputado Eduardo Bolsonaro, será necessário que nos matem mesmo antes de permitirmos que milícias controlem o estado do Ceará como os canalhas de sua família fizeram com o Rio de Janeiro.”

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