Uma Oficina em Lisboa para sujar os dedos, ouvir hip-hop e beber Porto
A Oficina Craft Snackery é um espaço “artesanal” e com um lado experimental, na comida e na restante oferta. No futuro, pode ir de provas de vinho do Porto com concertos de hip-hop até pequenos-almoços com papada de porco.
“Aqui pode-se”. A frase surgiu a meio da entrevista e Rui Rebelo gostou dela. “É isso mesmo, aqui pode-se. Nós podemos errar e as pessoas podem comer o que lhes apetecer, ir contra o que a sociedade definiu, contra ideias como a de que não se deve comer gorduras ao pequeno-almoço ou que só se pode beber álcool a partir de certa hora.”
“Aqui” é o novo espaço da equipa da Oficina do Duque. Chama-se Oficina Craft Snackery, fica na Rua do Duque, muito perto do seu irmão mais velho, mas propõe-se ser mais experimental e tanto quanto possível sem regras rígidas. Tudo gira à volta da ideia do artesanal (daí o craft) e a carta é composta por snacks, que podem ser acompanhados por cocktails, cerveja artesanal, vinho e espumante – “é fundamental beber espumante ao meio-dia”, brinca Rui.
Detalhe significativo: não há guardanapos de pano nem talheres, tudo aqui é para comer com as mãos. Ou melhor, quase tudo, porque a mousse de chocolate (a única coisa que vem da carta da Oficina do Duque) tem que ser comida com uma colher, concede Rui, que na Oficina Craft Snackery trabalha na cozinha com o guatemalteco Gabriel Rivera (que passou pelo Noma) e com Rodney Hernandez, responsável pelos cocktails.
O espaço abriu há pouco tempo e muitas ideias estão ainda a ser trabalhadas. “Queremos ser um bocadinho um café de bairro, trazer actividades para o bairro, vamos ter um barril aberto para as pessoas que queiram fazer cerveja connosco”, enumera Rui, entusiasmado.
A “casa mãe” Oficina cresceu demasiado para poder ter este carácter experimental. “Aqui vamos tentar que quatro a seis pratos da carta estejam sempre em rotação. Vamos, por exemplo, ter fermentações de sete dias, coisa que na Oficina não temos.” Outra aventura na qual se lançou recentemente foi a de fazer pão, e já tem quatro massas diferentes, de hambúrguer, de centeio, um branco lacto-fermentado e um de linhaça e cacau.
Os snacks são também resultado da imaginação irrequieta de Rui. “Temos pipocas com foie, adoro foie, adoro pipocas, ralamos o foie congelado por cima das pipocas, com azeite e pimenta emulsionada com laranja”, (3€), há croquetes de lula e tinta de choco (6,50€), pernas de frango em tempura da Índia (5,50€, porque Rui adora as asas de frango da KFC), tiras de barriga de porco crocante (3,50€), couve-flor assada com jus de vegetais e kombu (7€), “servida com uma faca de hambúrguer para provocar os vegetarianos mais extremistas”.
A preocupação de não ter desperdício e de aproveitar os produtos na totalidade deu, entre outras, a ideia de fazer um hambúrguer de polvo, porque na Oficina havia polvo que não era servido na totalidade e acabava frequentemente numa salada para a refeição do pessoal.
O horário do Craft vai passar a ser alargado, de manhã até à noite, e os snacks e bebidas serão servidos durante todo o dia. Em breve começará a haver pequenos-almoços, e é daí que vem a conversa reproduzida no início deste texto sobre não haver regras. Rui sorri: “Vamos ter papada de porco ao pequeno-almoço, não vamos ter abacate, [mas vamos ter] boas torradas, bolos caseiros, espumante, vamos tratar o pequeno-almoço como tratamos um jantar. Ainda estamos a perceber o que será.”
Rui e a sua equipa têm vários outros projectos na calha, mas, para já, a Oficina Craft Snackery será “não um laboratório, mas uma sala de experiências”. Na cozinha, mas não só. Daqui em diante, quem passar por lá poderá encontrar ceramistas a trabalhar, pessoas a fazer cerveja artesanal ou sessões que cruzam provas de vinho do Porto com concertos de hip-hop. Enfim, “aqui pode-se”.