Ano lectivo chinês recomeça online com coronavírus a adiar a abertura das escolas no país
O governo chinês recrutou gigantes tecnológicas como a Huawei, Baidu e Alibaba para assegurar o funcionamento da plataforma.
Na China, as aulas vão ter de ser em frente ao ecrã nos próximos tempos. Esta segunda-feira, dia 17 de Fevereiro, marcava o término das férias de Inverno do país para celebrar o Ano Novo chinês, mas o começo das aulas foi suspenso por tempo indeterminado como parte das medidas para combater o novo coronavírus (Covid-19).
Para evitar atrasos no programa de ensino, o Governo do país lançou uma plataforma de aprendizagem online para os milhões de estudantes impedidos de ir às aulas. O funcionamento do sistema está a ser assegurado por gigantes tecnológicas como a Huawei, Baidu e Alibaba.
A abordagem varia consoante a idade. Enquanto os estudantes do ensino primário poderão acompanhar as aulas na televisão através de programas disponibilizados nos canais estatais, os mais velhos terão acesso a uma plataforma online que disponibiliza aulas de uma dúzia de disciplinas diferentes. Os professores devem actualizar o sistema consoante as necessidades dos alunos: para a primeira semana, há um total de 169 aulas divididas por 12 disciplinas distintas do ensino básico e secundário.
Numa reportagem publicada na agência de notícias estatal Xinhua, uma jovem de 14 anos explica que os professores estão a utilizar uma plataforma de vídeo para explicar aos estudantes como podem aprender online. Cada sessão dura cerca de 15 minutos. Há ainda professores disponíveis para tirar dúvidas sobre o processo ou o conteúdo em canais do WeChat, uma plataforma de mensagens idêntica ao WhatsApp.
Desde o começo de Fevereiro que os estudantes universitários seguem um método semelhante. Num comunicado, o Ministério da Educação pede às universidade e instituições de ensino para usar os recursos tecnológicos para “continuarem as actividades de ensino online” como forma de “garantir progresso e qualidade do ensino durante a época de prevenção e controlo da epidemia”. O Governo acrescenta que devem ser disponibilizadas “plataformas de suporte e recursos didácticos para os professores” e que devem ser usadas formas para “usar dados sobre o comportamento dos alunos [nas plataformas] para compreender o processo de aprendizagem online.”
As instituições académicas tentam manter uma perspectiva optimista. “A situação de epidemia em que estamos representa um desafio para nós, mas também é uma oportunidade de promover a digitalização e informatização do sistema de aprendizagem”, disse o director da Universidade de Tsinghua, em Pequim, em declarações à agência Xinhua.
A tecnologia focada no ensino, conhecida pela amálgama inglesa edtech, é um sector em crescimento. Em 2020, este mercado deve ultrapassar os 230 mil milhões de euros de acordo com dados da consultora Daxue e é a China quem mais investe no sector. A 17zuoye (trabalho de casa em conjunto, em português) é considerada uma das maiores plataformas de educação online do país. Junta estudantes professores e pais, com mais de 60 milhões de utilizadores registados.
Além das gigantes chinesas Huawei, Baidu (motor de busca equivalente ao Google) e Alibaba serem recrutadas pelo governo chinês garantir o funcionamento da plataforma, as operadoras de telecomunicações China Mobile, China Unicom e China Telecom devem garantir que há banda larga suficientemente grande e um número adequado de servidores para disponibilizar ferramentas de aprendizagem online. Cerca de 600 mil professores também têm estado a utilizar o sistema de videoconferências da Alibababa, o Dingtalk, para leccionar.
Além das aplicações da tecnologia no ensino, o governo chinês também disponibilizou uma nova aplicação móvel que alerta os cidadãos chineses quando há “contacto próximo” com alguém potencialmente infectado com o novo coronavírus. Os utilizadores podem-se registar na aplicação através de um QR Code, uma espécie de código de barras que é lido através de certas aplicações recorrendo à câmara do telemóvel.
O impacto do novo coronavírus
Foi no final de 2019 que um novo coronavírus começou a espalhar-se entre humanos. Desde então, mais de 71.300 pessoas adoeceram em toda a Ásia, com a China a reunir a grande maioria dos casos, provocando cerca de 1775 vítimas mortais em todo o mundo. Até agora, apenas cinco das mortes registadas fora da China. Os sintomas incluem tosse seca, febre, fadiga e dificuldades respiratórias – sintomas semelhantes aos de uma gripe para a maioria das pessoas, embora uma pequena proporção dos doentes desenvolva pneumonia, com os casos mais graves a provocar falência de órgãos. Mais de 11 mil pessoas infectadas já recuperam da doença.
Além dos impactos no sector do ensino, o novo coronavírus já levou mais de duas dezenas de companhias aéreas (incluindo a Air France, British Airways, e Ibéria) a cancelar voos para a China. A epidemia também está a causar demoras na cadeia de fabrico de várias empresas, que dependem de peças produzias em fábricas naquele país. A Toyota, por exemplo, prolongou o encerramento das suas fábricas após o período do Ano Novo Chinês, face ao surto do novo coronavírus. Embora a empresa tenha reaberto três das quatro fábricas no país esta segunda-feira, a quarta, em Chengdu, deve continuar encerrada durante mais uma semana. O novo coronavírus também foi tema durante a apresentação de resultados da Apple, com a empresa a admitir que tem fornecedores em Wuhan, epicentro do Covid-19, e que o vírus pode dificultar operações nas fábricas da Apple na China.
A semana passada, o Mobile World Congress (MWC), a grande feira de Barcelona dedicada à tecnologia do sector móvel, foi cancelada com base em receios associados ao surto do novo coronavírus e às restrições de viagens associadas. O Facebook também cancelou uma conferência internacional de marketing agendada para Março, em São Francisco.