Ministério Público vai investigar insultos a Marega

O inquérito instaurado está nas mãos do Departamento de Investigação e Acção Penal de Guimarães.

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LUSA/HUGO DELGADO

O Ministério Público vai investigar o episódio racista contra o avançado Moussa Marega que aconteceu no jogo entre o FC Porto e o V Guimarães, na noite de domingo, confirmou o PÚBLICO junto da Procuradoria-Geral da República. Os insultos de que foi alvo levaram o jogador a abandonar o campo antes do apito final do encontro entre o V Guimarães e o FC Porto (1-2), em protesto.

O inquérito instaurado está nas mãos do Departamento de Investigação e Acção Penal de Guimarães, acrescenta a mesma fonte.

Moussa Marega, avançado do FC Porto, abandonou o campo durante a partida contra o V. Guimarães no último domingo, depois de ter ouvido insultos vindos das bancadas do Estádio D. Afonso Henriques. Chegou a receber um amarelo do árbitro Luís Godinho durante o jogo, quando colocou uma das cadeiras que lhe atiraram para o relvado em cima da cabeça.

Marega ouviu expressões como “macaco”, “chimpanzé” ou “preto” e sons que se assemelhavam aos de símios ecoaram no estádio vimaranense. 

A PSP, que estava responsável pelo policiamento do recinto, já está a tentar identificar os responsáveis pelos insultos, recorrendo às imagens de videovigilância. Não foi possível identificá-los nem detê-los na noite de domingo devido à “moldura humana e concentração de pessoas” dentro do Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães. Depois de identificados, a polícia irá levar os suspeitos às “entidades judiciais e administrativas competentes”

Os insultos configuram um crime previsto e punido no Código Penal e uma contra-ordenação com coima entre os 1000 e 10.000 euros, esclarece a polícia em comunicado. 

A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) dá conta de seis multas e três admoestações por episódios semelhantes aos que levaram Marega a abandonar o campo, desde que a nova lei de combate à discriminação racial e étnica foi publicada, em Agosto de 2017, apurou o PÚBLICO.

O Presidente da República condenou os insultos racistas de que o jogador do FC Porto Marega foi alvo, lembrando que a Constituição da República é muito clara na condenação do racismo, xenofobia e discriminação. O primeiro-ministro António Costa também se posicionou ao lado do “grande jogador e grande cidadão”, manifestando-lhe total solidariedade.

Da esquerda à direita, a maioria dos partidos (e os seus líderes) já comentaram o racismo de que Marega foi vítima. Catarina Martins (BE) afirma que não segue futebol, mas “racismo não é opinião”; João Cotrim Figueiredo (IL) diz que Marega “fez bem em abandonar o campo”; Francisco Rodrigues dos Santos (CDS-PP) defende que “as manifestações de racismo não podem ter lugar na nossa sociedade”; Isabel Moreira (PS) afirma que Marega se recusou a ser “uma não-pessoa”; Rui Rio afirma que ofensas tiveram “óbvios contornos racistas” e o Livre considera que “numa sociedade democrática, atitudes racistas são inaceitáveis”. Até agora, apenas André Ventura se posicionou contra a atitude do jogador. 

Da parte do Governo surgiu uma promessa: os responsáveis serão punidos. As garantias são dadas pelo secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo: “A Autoridade para Prevenção e o Combate à Violência no Desporto está desde já a trabalhar em articulação com as autoridades policiais e desportivas no sentido de identificar e punir exemplarmente os responsáveis deste triste episódio que enche de vergonha todos quantos lutam por uma sociedade mais tolerante.” “Todos os agentes desportivos e, em particular, os seus dirigentes, além do repúdio, têm de actuar de forma a que isto não se repita”, frisou João Paulo Rebelo.

No mundo do futebol, também vários clubes se posicionaram a favor de Marega, entre eles o Sporting e o Benfica. O primeiro foi o próprio FC Porto, que publicou um vídeo musical nas suas redes sociais com a descrição “Diz não ao Racismo”, embora não se pronunciando especificamente sobre o caso Marega.

Também o V. Guimarães se mostrou “ciente da responsabilidade” que tem e censurou “toda e qualquer manifestação de violência, racismo ou intolerância”. “Daí nada se alcança, senão mais violência, mais racismo e mais intolerância”, continuou em comunicado. “Em consonância com esses princípios e valores, o Vitória Sport Clube vai averiguar o sucedido no decurso do jogo realizado no Estádio D. Afonso Henriques, agindo com firmeza e consequência, em cooperação plena com as entidades judiciais competentes”, prometeu.

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