Durante dois dias, Bonga, Luís Severo e Sensible Soccers vão criar um Micro Clima especial
O Micro Clima, festival organizado pela centenária Sociedade Musical União Paredense, na Parede, Cascais, reúne música diversa para celebrar o presente criativo e ajudar a “descentralizar a arte e a cultura”. Com música e instalações artísticas, a terceira edição decorre entre esta sexta-feira e sábado.
A sua história é antiga, recua ao fim quase final do século XIX, mas os seus propósitos mantêm-se intactos. Foi em 1899 que cidadãos da Parede, no concelho de Cascais, se reuniram para fundar a Sociedade Musical União Paredense (SMUP). O objectivo, tal como enunciado no baptismo, era a formação e fruição musical. Uma escola de música, aberta a todos, um salão onde a música se ouvisse para que todos a ouvissem e a bailassem.
Passados 121 anos, a SMUP continua. Tem escola de música e banda filarmónica dirigida por Sérgio Costa, que ali começou a aprender música quando contava oito anos. Tem também desenvolvido nos últimos anos uma programação ligada à música improvisada e experimental e à arte contemporânea. Ou seja, fiel aos seus princípios, a SMUP abre-se ao novo que trazem novos tempos. Apresente-se então o Micro Clima. É um festival de música, abrangente nos géneros abordados (Sensible Soccers e Bonga, Luís Severo e Cave Story marcam presença este ano) e que não se esgota na música (também estarão patentes instalações artísticas) que cumpre este ano a sua terceira edição. Esta sexta-feira e sábado, abrem-se os salões e a música, música nova, música consagrada, invade a SMUP como a SMUP quer.
Nascido da ambição de “um grupo de jovens voluntários que procura dinamizar a zona da Parede, com o objectivo de descentralizar a arte e a cultura, levando não só os artistas, como o público, a deslocar-se a outros pólos artísticos nos arredores de Lisboa”, como lemos no comunicado de apresentação do festival, o Micro Clima programa para a primeira noite da sua edição 2020 concertos de Luís Severo (22h15), um dos mais celebrados autores de canções da presente geração (O Sol Voltou, dizia ele em 2019, e não estava a enganar-nos), desse mestre de um psicadelismo expansivo, paredes-meias com fantasia folk, chamado Alek Rein (Mirror Lane, editado em 2016, é riquíssimo clássico de culto e será a base da actuação marcada para as 23h25) e dos fulcrais Sensible Soccers (0h45), admiráveis respigadores de memórias e habilíssimos exploradores sonoros de matérias electrónicas e analógicas, tão incitadores de dança na pista quanto de abandono melancólico a delicadas paisagens ambientais (Aurora, o álbum mais recente, o terceiro da discografia, foi editado o ano passado).
Sábado, lugar à festa e à sabedoria de uma lenda da música angolana e portuguesa, Bonga, que ocupará o lugar de cabeça-de-cartaz para pôr o salão a ferver de semba a partir das 0h45. Antes dele, às 23h25, os lisboetas Zanibar Aliens farão todo um outro tipo de festa: com eles, os anos 1970 de Led Zeppelin e dos Faces, e a voz de Carl Karlsson não engana, o blues e space-rock com pitadas de stoner e pinceladas de soft-rock, tal como registado em III, o álbum que editaram no final de 2018. O último dia de festival arranca às 22h15 com os Cave Story, a belíssima banda que mistura e reconfigura em novas canções memórias garage, punk, pós-punk, new wave (de Jonathan Richman, influência assumida em título de single, aos Swell Maps, de quem gravaram uma versão; dos Wire aos Feelies e aos Television Personalities).
Em ambos os dias, o Micro Clima prossegue após os concertos com DJ sets do artista plástico Pedro Tudela (sexta-feira) e, sábado, de Candy Diaz, actualmente baterista de Vaiapraia, com Kyron (ou seja, João Branco Kyron, vocalista dos Beautify Junkyards). Em ambos os dias, a música é complementada com as instalações artísticas patentes no SMUP e criadas para o festival por Berru, Plasticus Maritimus, Rappepa Bedjo Tempo e notfromthisbox.
Os bilhetes diários custam 12 euros, o passe para os dois dias tem o preço de 20 euros.