Agora, que os discursos de amor pela literatura já provaram que não produzem qualquer efeito e já não comovem ninguém, é tempo de pensar antes no ódio à literatura e aos seus efeitos. Há um ódio da literatura por si própria que o modernismo cultivou com zelo e alguma frequência. Era uma maneira de ser crítica, crítica de si própria, de acordo com os mais altos desígnios da palavra literária. Mas há um ódio de outro tipo, que vem do exterior, como se ela só se justificasse verdadeiramente quando confrontada com os seus inimigos. No período mais recente, o processo do ódio contra a literatura é intentado a maior parte das vezes em nome da sociedade e a literatura surge como culpada de não ser um discurso suficientemente representativo quer do corpo social ou político no seu conjunto, quer de uma categoria particular da sociedade. E, portanto, de não ter qualquer utilidade a esse nível. Curiosamente, há um processo da democracia contra a literatura que não é menos nefasto do que o processo antiliterário dos regimes totalitários.
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