Caros ouvintes, este programa é dedicado à Radiolândia
A propósito do Dia Mundial da Rádio, a 13 de Fevereiro, propomos uma visita ao museu instalado em Oliveira do Bairro, que guarda cerca de 2000 rádios, de várias tipologias e origens, e convida os miúdos a entrarem para o estúdio para produzir o seu próprio programa.
Se este texto se destinasse a ser lido num programa de rádio, bem que podia começar assim: “Caro ouvinte, seja bem-vindo à Radiolândia - Museu do Rádio. Um espaço que alberga uma colecção de aparelhos de rádio única no país e que também ajuda a contar a história da rádio em Portugal. A partir da vila de Bustos, em Oliveira do Bairro, pode viajar no tempo, recordar vozes que marcaram o panorama radiofónico nacional e, inclusive, gravar o seu próprio programa de rádio.”
Instalada num edifício contíguo à antiga escola primária de Bustos, a Radiolândia é um daqueles locais que já carrega uma boa dose de história e memórias no nome. “Era o nome de uma antiga loja de reparação e comércio de rádios que existia em Bustos”, recorda Sérgio Dias, responsável pela unidade museológica. À frente do estabelecimento estava Manuel Silva, um filho da terra – também chegou a explorar o cinema local – que acabou por ir reunindo uma colecção de rádios “sem paralelo em Portugal e das melhores que há na Europa”.
“Eram aparelhos que ele ia comprando aos clientes, algumas retomas”, enquadra Sérgio Dias, sem deixar de reparar que, mesmo depois de ter deixado o negócio, Manuel Silva, actualmente com 90 anos, continuou a reforçar a colecção. “Em 2010, ele ainda andava à procura de rádios no eBay”, nota o coordenador do museu.
A ideia de criar um museu que pudesse albergar o espólio reunido ao longo de dezenas de anos resultou de um misto de vontades: à intenção do coleccionador particular juntou-se o interesse da câmara municipal de Oliveira do Bairro. Em 2017, a Radiolândia – Museu do Rádio acabou por abrir as portas ao público, apostando num discurso expositivo que agrada a miúdos e graúdos. Os mais velhos recordam os aparelhos que, outrora, decoravam as salas das habitações – rádios que são autênticas peças de mobiliário e à volta dos quais a família se juntava para ouvir a emissão (nesse tempo em que ainda não havia televisão). A pequenada entretém-se a sintonizar, manualmente, um aparelho de rádio gigante, ao mesmo tempo que aprende uma lição de história.
Aparelhos do regime e outros mais
Entre as várias relíquias expostas na sala principal da Radiolândia, contam-se modelos diversos da década de 1920. “Nessa época, os altifalantes ainda eram uma peça à parte do rádio”, nota Sérgio Dias, especificando que só na década seguinte é que se começa a ensaiar o modelo com o altifalante incorporado. A lista de aparelhos expostos contempla também “alguns modelos de rádios alemães que eram comercializados pelo regime nazi, para o povo ouvir a propaganda política”, repara o responsável pelo museu.
O “rádio do Estado Novo” também lá está, em exposição, não obstante ter sido “um fracasso”. “O regime encomendou-o com a mesma lógica, de servir para transmitir a propaganda, mas como os aparelhos eram fabricados nos Estados Unidos da América vinham com uma voltagem de 110V e em Portugal a distribuição de electricidade era de 220V”, explica Sérgio Dias.
Outro dos modelos expostos e que está intimamente ligado a Portugal é o “Lusito”. Datado de 1953, o aparelho produzido pela Standard Eléctrica Portuguesa foi “o único rádio totalmente fabricado em Portugal”.
Para complementar esta viagem através da história dos rádios, a Radiolândia disponibiliza uma mesa interactiva, com informação adicional sobre as descobertas e os modelos que ficarão perpetuados nos tempos. Nas paredes, conta-se a história da rádio, animada por alguns pontos de escuta, nos quais o visitante é convidado a recordar vozes e programas que marcaram uma época de ouro da rádio. É o caso do mítico Despertar da Rádio Renascença, com Olga Cardoso e António Sala.
Este é um daqueles museus que dá a conhecer as suas salas de reservas – instaladas no edifício da antiga escola. E nem podia ser de outra forma: o espólio actual da Radiolândia ascende às cerca de 2000 peças. “Em breve, vamos criar uma nova área de exposição, mas, mesmo assim, continuaremos a ter muitas peças guardadas”, explica Sérgio Dias.
Antes de entrar para as salas de depósito, o visitante é convidado a entrar num estúdio de rádio e a gravar o seu próprio programa. Basta colocar os auscultadores, projectar a voz para o microfone e seguir as indicações apontadas no ecrã. No final, com ou sem gaffes, poderá ficar com a gravação para memória futura. O sinal “No Ar” está ligado.