Morte de doente na urgência de Lamego após seis horas de espera está em investigação
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes explica que na segunda-feira houve um pico de afluência de doentes muito urgentes e urgentes no serviço de urgência do Hospital de Lamego.
Um homem de 65 anos morreu na segunda-feira depois de ter sido triado com pulseira amarela (caso considerado urgente) e de ter aguardado seis horas no serviço de urgência do Hospital de Lamego. A Ordem dos Médicos já pediu esclarecimentos ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), que gere a unidade de Lamego, e o conselho de administração adiantou que vai abrir um processo de inquérito, sublinhando que nesse dia houve um pico na afluência de doentes muito urgentes e urgentes à urgência de Lamego.
Doente pulmonar crónico, José Ferreira deu entrada na urgência do Hospital de Lamego por volta das 14h de segunda-feira com dificuldade respiratória. Apesar de os familiares terem pedido ajuda e de ele ter vomitado entretanto, o pessoal de serviço na urgência disse que teria de aguardar. José Ferreira acabou por morrer na sala de espera já ao início da noite, às 20h, segundo relatam os seus familiares e vizinhos, que acusam o hospital de negligência. As regras ditam que um paciente que recebe na triagem uma pulseira amarela deve ser visto por um médico no intervalo máximo de uma hora.
Em comunicado, o CHTMAD refere que “um dos doentes na sala de espera teve um agravamento do seu estado crítico, após ser triado, tendo sido assistido no local e encaminhado para a sala de emergência”. “Infelizmente, o doente em causa acabou por falecer”, acrescentou.
Como se justifica que o doente tivesse de aguardar seis horas? O centro hospitalar explica que nesta segunda-feira, entre as 8h e as 20h, a afluência ao serviço de urgência de Lamego foi “excepcionalmente alta, quando comparada com os dias anteriores”. Neste período, “foram atendidos 128 doentes, dos quais 116 foram triados como laranja [atendimento em dez minutos, no máximo] e amarelo [uma hora]”.
Foi uma afluência recorde neste mês. “Desde o dia 1 de Janeiro do presente ano, o serviço de urgência da unidade hospitalar de Lamego recebe, em média, 125 doentes/dia. O dia 10/2 foi o dia com mais admissões do ano de 2020 – 166 registos de entrada”, adiantou ao PÚBLICO.
Questionado sobre o número de médicos que nesse dia estavam a trabalhar na urgência, o centro hospitalar não respondeu, alegando que não tem mais informação para disponibilizar e que é necessário aguardar pelas conclusões do processo de inquérito.
A família quer saber a causa da morte, mas, segundo o Correio da Manhã, que deu a notícia, o cadáver não foi autopsiado. O CHTMAD confirma, mas explica que “pediu autópsia” e que foi o Ministério Público que “dispensou a realização da mesma”.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, que já fez chegar um conjunto de questões sobre este caso ao conselho de administração do centro hospitalar, é preciso agora esclarecer uma série de dúvidas, nomeadamente a de se saber se o doente já teria sido visto por um médico e se estaria à espera do resultado de exames de diagnóstico e perceber se a intervenção atempada dos profissionais de saúde poderia ou não ter salvado a vida deste homem.