Turquia avança sobre as forças sírias se Assad não retirar de Idlib até ao fim do mês
Centenas de veículos blindados turcos entraram na Síria nos últimos dias. Perante o avanço das tropas de Assad, que cercam os postos de observação das forças de Ancara, “todas as opções estão sobre a mesa”.
A Turquia enviou reforços substanciais para a região de Idlib, no noroeste da Síria, e mantém “todas as opções sobre a mesa”, disse uma fonte oficial, numa altura em que Ancara tenta contrariar o rápido avanço das forças governamentais.
A ofensiva do Governo em Idlib, o último grande enclave da oposição ao Presidente Bashar al-Assad, levou mais de meio milhão de pessoas a abandonar as suas casas e dirigir-se para a fronteira da Turquia, abrindo mais uma crise humanitária na Síria.
A Turquia já alberga no seu território 3,6 milhões de refugiados sírios e diz que não pode receber mais – exigindo que Assad recue em Idlib até ao final de Fevereiro ou arrisca-se a uma ofensiva turca.
Longos comboios militares transportando tanques, veículos blindados de transporte de tropas e outro equipamento cruzou a fronteira para reforçar o contingente turco na Síria posicionado numa dúzia de postos, alguns deles cercados agora pelas tropas sírias que progridem no terreno.
“Houve um substancial reforço de tropas e equipamento militar, enviados para a região de Idlib nas últimas semanas”, disse a fonte que falou com a Reuters sob anonimato.
Trezentos veículos entraram em Idlib no sábado, o que perfaz um total de mil enviados só em Fevereiro, acrescentou, não querendo especificar a quantidade de tropas que foram destacadas para a Síria, mas dizendo que foi “uma quantidade considerável”.
“Os postos de observação foram totalmente reforçados”, disse a fonte oficial. “A frente em Idlib foi fortalecida”.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, um organismo com sede em Londres em contacto com fontes no terreno, 1240 veículos militares cruzaram a fronteira em direcção a Idlib na semana passada, assim como cinco mil soldados.
Os combates em Idlib abalaram a frágil cooperação entre a Turquia, que apoia a oposição, e a Rússia, cujo apoio, inclusive aéreo, ajudou o Presidente Assad a fazer regressar quase todo o território ao seu controlo.
Na segunda-feira passada, oito militares turcos foram mortos em bombardeamentos das forças sírias, levando a Turquia a dizer à Rússia para “se manter afastada”, enquanto as suas tropas bombardeavam dezenas de alvos sírios, em retaliação.
“O regime, com o apoio da Rússia, tem estado a violar todos os acordos”, disse a fonte oficial sob anonimato. “Estamos preparados para todas as eventualidades. E claro, todas as opções estão sobre a mesa”.
A Turquia e a Rússia acordaram um cessar-fogo em Idlib. Como parte desse acordo, de 2018 – a guerra na Síria começou em Março de 2011 -, Ancara estabeleceu os 12 postos de observação que estão agora cercados pelas forças de Assad em Idlib.
Apesar do desentendimento entre Rússia e Turquia sobre Idlib, os dois lados vão voltar a reunir-se esta semana.
Do lado sírio, as Forças Armadas fizeram saber neste domingo que recapturaram 600 quilómetros quadrados de território, recuperando o controlo de várias cidades e vilas nos últimos dias, e que os combates vão continuar. “Os nossos bravos homens vão continuar a cumprir o seu dever para limpar todo o território da Síria do terrorismo e dos seus apoiantes”, diz um comunicado das Forças Armadas.
Segundo o Observatório, as forças governamentais avançaram na frente leste do enclave da oposição tomando todo o território menos dois quilómetros da auto-estrada M5, a principal via a ligar o Norte e o Sul da Síria e que liga as duas principais cidades, Damasco e Aleppo.
O Governo de Ancara, do Presidente Recep Erdogan, pediu a Moscovo para conter a ofensiva em Idlib, que já levou as forças do Governo de Damasco a posicionarem-se a 16 quilómetros da capital da província, a cidade de Idlib, que tem mais de um milhão de pessoas. O ministro da Defesa turco, o antigo general Hulusi Akar, sublinhou neste domingo que as tropas de Damasco devem retirar-se. “Se o regime não retirar até ao final de Fevereiro, vamos agir”, disse Akar numa entrevista ao jornal Hurriyet.