Após ter sido absolvido no impeachment, Trump despede duas testemunhas
Presidente dispensou o embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordan Sondland, e Alexander Vindman, oficial do exército. O primeiro disse que era de conhecimento geral que Trump planeava um troca de favores com o Presidente ucraniano. O segundo revelou que o resumo da conversa tornado público omitia passagens comprometedoras.
O Presidente norte-americano dispensou duas testemunhas ouvidas no processo de destituição que apontaram para possíveis comportamentos ilegais de Donald Trump. O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordan Sondland, anunciou esta sexta-feira, em comunicado, que o Presidente solicitou o seu “regresso imediato” aos Estados Unidos. A segunda testemunha despedida é Alexander S. Vindman, oficial do exército, que ouviu a chamada entre Trump e o chefe de Estado da Ucrânia, Volodimir Zelensky, por integrar o Conselho de Segurança Nacional.
Um conselheiro de Trump, citado de forma anónima pela CNN, confirmou que estes despedimentos servem para fazer passar a mensagem de que oposição ao Presidente não será tolerada. “Limpar a casa. Era necessário”, cita o canal de notícias norte-americano.
Os dois testemunhos foram comprometedores para Trump. Na Comissão de Serviços Secretos da Câmara de Representantes, o embaixador norte-americano na União Europeia disse sob juramento que era do conhecimento de “toda a gente” na cúpula da Casa Branca e do Departamento de Estado que Trump estaria a negociar uma troca de favores com o Presidente ucraniano. No comunicado a anunciar a sua saída, o empresário – que, de acordo com o The New York Times, doou um milhão de dólares para a cerimónia da tomada de posse de Trump em 2016 – agradeceu ao Presidente “a oportunidade de servir [o país]”, mostrando-se orgulhoso com o trabalho realizado enquanto embaixador.
Em causa neste processo de destituição esteve o bloqueio de um pacote de 391 milhões de dólares para a Ucrânia. Este dinheiro era destinado a ajuda militar, no âmbito da operação de Kiev contra os separatistas pró-Rússia do Leste do país, e tinha sido aprovado pelo Partido Democrata e pelo Partido Republicano no Congresso. Trump foi acusado de ter exigido à Ucrânia que investigasse Joe Biden, um dos candidatos às primárias do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2020, para que esta ajuda militar fosse disponibilizada.
Biden, antigo vice-presidente dos Estados Unidos, tem ligações com o país do Leste europeu: foi o principal interlocutor da Casa Branca na Ucrânia, durante a Administração Obama, quando o país tentava recuperar da violenta repressão ordenada pelo Presidente Viktor Ianukovich, em 2014, e da invasão da Península da Crimeia pela Rússia. O seu filho, Hunter Biden, foi administrador da empresa ucraniana de extracção e produção de gás Burisma, com Joe Biden a incentivar Kiev a libertar-se da dependência energética em relação a Moscovo.
Em 2016, num momento em que a empresa de energia onde o filho trabalhava era investigada, Joe Biden pressionou o Governo ucraniano a demitir o procurador-geral responsável pelas investigações, acusando-o de não combater os casos de corrupção no país.
Num telefonema entre Trump e Zelensky, no dia 25 de Julho de 2019, o Presidente norte-americano insistiu oito vezes com o homólogo para que a Justiça ucraniana abrisse uma investigação que poderia prejudicar Joe Biden. O Partido Democrata acusou Trump de ter pressionado Zelensky com o intuito de obter um favor de um líder estrangeiro para ganhos políticos.
Uma das poucas pessoas que esteve na sala onde aconteceram as conversas foi Alexander S. Vindman, que integrava o Conselho de Defesa Nacional enquanto especialista em Ucrânia. Ouvido no processo de destituição, o tenente-coronel garantiu que a transcrição da chamada, tornada pública pela Casa Branca, omitiu algumas passagens importantes. Durante o relato à porta fechada, citado pelo The New York Times, o militar afirmou que o resumo oficial da conversa não tinha uma referência de Trump a uma suposta gravação de Joe Biden a falar de corrupção na Ucrânia. A outra omissão dizia respeito a um momento na conversa em que o Presidente da Ucrânia referiu directamente a Burisma Holdings.
O Partido Democrata formalizou a abertura do processo de destituição contra o Presidente no final de Outubro. Na passada quarta-feira, Trump foi absolvido das duas acusações que lhe eram imputadas, obstrução à justiça e abuso de poder. Na primeira votação, relativa ao abuso de poder, Trump recebeu 52 votos favoráveis à absolvição, enquanto 48 senadores votaram contra. Na segunda votação, relativa a obstrução, Trump recebeu 53 votos favoráveis.