Os marcianos, os corvos e os cães ressuscitados de Tim Burton aterraram no Museu da Marioneta
Tim Burton – As Marionetas de Animação é a exposição que a Monstra, o festival de animação que este ano assinala duas décadas de actividade, dedica às marionetas que deram origem a Marte Ataca!, A Noiva Cadáver e Frankenweenie. Para ver até 16 de Abril.
Nos anos 1990, Tim Burton viu The Sandman, uma curta-metragem de animação realizada por Paul Berry e nomeada para um Óscar. Quando chegou a altura de realizar Marte Ataca!, de 1996, encomendou à Mackinnon & Saunders, o estúdio de animação britânico que produzira essa curta, as marionetas dos marcianos que invadem a terra no seu filme, baseado numa série de cartas coleccionáveis. Os marcianos de Marte Ataca! acabaram por ser gerados por animação computorizada, mas os modelos da Mackinnon & Saunders foram feitos e alguns entraram no filme. “Quaisquer marcianos mortos que virem no chão fomos nós que fizemos”, garante a produtora Sara Mullock ao PÚBLICO.
A vinda de Mullock a Lisboa tem uma explicação: Tim Burton – As Marionetas de Animação, pequena exposição com que a Monstra, festival de cinema de animação lisboeta, antecipa a edição dos seus 20 anos, que decorrerá entre 18 e 29 de Março. A partir desta quinta-feira, e até 16 de Abril, ali poderão ser vistos modelos, marionetas, desenhos originais, cópias e outros objectos relativos ao trabalho que o realizador encomendou a este estúdio britânico também responsável, por exemplo, pela animação de O Fantástico Senhor Raposo, de Wes Anderson, ou da série infantil Bob, o Construtor. Reunidos no Museu da Marioneta estão ainda materiais dos três filmes em que os estúdios colaboraram com o realizador americano: Marte Ataca!, A Noiva Cadáver, de 2005, e Frankenweenie, de 2012.
Dos marcianos de Marte Ataca! ao cão que é trazido de volta à vida de Frankenweenie, passando pelas placas de metal com os moldes das pálpebras e das patas do corvo de A Noiva Cadáver, os três filmes estão bem representados no Museu da Marioneta. Mas também há outros objectos que não estão relacionados com essas obras, como o robô da mais alargada exposição internacional The Animated World of Tim Burton, que teve a sua estreia no MoMA, em Nova Iorque, e modelos de personagens criadas por Burton como Stain Boy, Toxic Boy e Oyster Boy. A maioria do material, explica Sara Mullock, aparece em The Animated World of Tim Burton, que também inclui os trabalhos de imagem real do realizador, mas as pálpebras e as patas do corvo, por exemplo, “normalmente não seriam mostradas”.
“São itens que temos ao nosso cuidado, não somos donos deles. É interessante mostrá-los ao público, já que normalmente estão num armário na oficina”, continua a produtora, que comenta também que foi complicado conseguir autorização para exibir as peças. Marte Ataca! e A Noiva Cadáver são da Warner Brothers, enquanto Frankenweenie é da Disney. “São filmes bastante antigos e eles não estão particularmente interessados nisto. Mas perguntámos primeiro ao Tim e ele disse logo que sim”, prossegue. “Depois disso foi só tentar juntar as coisas certas e empacotá-las bem, porque algumas peças são muito frágeis. Não parecem, mas lá dentro têm borracha alveolar e estão a desfazer-se em pó. Estávamos nervosos até abrirmos as caixas e confirmar que tudo ficou bem”, confessa. Alguns dos objectos estão a “desmoronar-se, a transformar-se em pó”, e noutros “podem ver-se fios a sair do dedo ou o desvanecimento na cara ou numa saia”, mas isso é “porque estiveram no filme, cumpriram a sua tarefa, não foram planeados para estar numa vitrina com pessoas a olharem para eles”.
A relação entre Tim Burton e a animação é longa. A primeira longa-metragem do realizador, A Grande Aventura de Pee Wee, que faz 35 anos em 2020, tem animação 2D e stop-motion e até os seus filmes de acção real exibem a influência desse universo. De resto, o cineasta, que estudou animação, deu os primeiros passos no mundo do cinema como aprendiz de animador na Disney, em 1980, tendo trabalhado na arte conceptual de vários filmes, mas os seus esforços raramente chegaram ao ecrã. Dois anos depois, o estúdio financiou a sua primeira curta animada, Vincent. Também trabalhou como marionetista, tendo o seu trabalho aparecido em As Aventuras dos Marretas, de 1979.