Ministério Público investiga sindicato da PSP que insinuou que Cláudia Simões tem “doenças”

Queixa da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial foi remetida ao Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, onde deu origem a um inquérito. Também a Inspecção-Geral da Administração Interna, a “polícia dos polícias”, abriu um processo administrativo ao sindicato.

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O post que foi apagado DR

O Ministério Público está a investigar o Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública por causa do post que a organização publicou no Facebook em defesa do agente acusado de agredir Cláudia Simões, na Amadora, onde insinuava que ela teria doenças. Segundo o gabinete de imprensa da Procuradoria Geral da República, foi localizada uma queixa proveniente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que foi remetida ao Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, onde deu origem a um inquérito.​ Também há cerca de duas semanas a Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI), a “polícia dos polícias”, abriu um processo administrativo ao sindicato. 

Nesse post, entretanto apagado da página do Facebook do sindicato, lia-se: “As melhoras ao colega e espero que as análises sejam todas negativas a doenças graves. Contudo a defesa da cidadã está a começar a ser orquestrada pelo ódiomor [sic] de brancos.” A página do sindicato partilhou também fotos dos arranhões e das mordidas no braço do polícia envolvido nas agressões.

O Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública é liderado por Peixoto Rodrigues, que foi candidato na lista do líder de extrema-direita André Ventura às eleições europeias. Este é o sindicato ao qual pertencem 16 dos 17 polícias da Esquadra de Alfragide que foram a julgamento acusados de racismo e tortura contra seis jovens da Cova da Moura – oito foram condenados por agressão e sequestro.

“A publicação é a que está e nada mais. Não tenho nada a comentar”, afirmou na altura ao PÚBLICO um responsável do sindicato.

Peixoto Rodrigues apareceu a falar do Movimento Zero publicamente e é arguido num processo de fraude que lesou o Estado em milhares de euros. Foi alvo de uma pena disciplinar de aposentação compulsiva aplicada pelo Ministério da Administração Interna (MAI) depois de faltar 83 dias sem justificação, em Julho do ano passado.

O caso de Cláudia Simões e do agente Carlos Canha já estava a ser investigado, a pedido do Ministério da Administração Interna, pela Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI). O processo judicial está em segredo de justiça e Cláudia Simões já foi ouvida pelo Ministério Público da Amadora como arguida, tendo ficado com termo de identidade e residência - a PSP, por seu lado, afirmou que a cidadã “se mostrou agressiva” e “mordeu o agente”. A advogada de Cláudia Simões pediu a incorporação neste processo do outro em que é queixosa. Até agora o agente não foi constituído arguido. 

Há dois dias, na sua tomada de posse, o novo director nacional da PSP disse que não viu “qualquer infracção” no vídeo da detenção de Cláudia Simões na Amadora, a 19 de Janeiro. Questionado sobre a actuação policial no caso, Magina da Silva afirmou que aquilo que viu no vídeo foi “um polícia a cumprir as suas obrigações e as normas que estão em vigor na PSP”. O que se passou depois, lembrou, será esclarecido no âmbito do processo-crime e o processo disciplinar a decorrer”.

“Há uma actuação legal e legítima por parte de um agente da autoridade. Há uma resistência na condução para identificação e há efectivamente uma acção de resistência activa contra o agente que decidiu proceder à detenção, que foi o que aconteceu. O que se passou depois, que não está documentado no vídeo, obviamente será devidamente esclarecido no âmbito do processo-crime e o processo disciplinar a decorrer na IGAI”, disse.

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