Avaliar o nível de ameaça e traçar medidas para melhorar a preservação das aves e vegetação das ilhas barreiras da Ria Formosa, no Algarve, é o que o projecto LIFE, apresentado esta terça-feira, 4 de Fevereiro, no Centro de Educação Ambiental de Marim, em Olhão, se propõe fazer. “O objectivo é promover a conservação das ilhas-barreira de modo a proteger as espécies e os habitats nelas existentes”, revelou à Lusa Joana Andrade, coordenadora do projecto LIFE Ilhas Barreira, que teve início em Setembro de 2019 e terá a duração de quatro anos. Só agora vai para o terreno para levar a cabo a caracterização das áreas de vegetação e de zonas de erosão das cinco ilhas.
A ideia, adiantou a bióloga, é perceber “como tem sido a evolução ao longo do tempo”, mas também “intervir e potenciar algumas acções de conservação” deste ecossistema que se estende por cinco concelhos algarvios. Para tal, vão “identificar os factores de pressão” que estão a causar o desaparecimento dos habitats, para perceber como serão capazes de “acompanhar os actuais cenários de alterações climáticas e subida do nível do mar”.
As ilhas-barreira são um conjunto de cinco ilhas — Barreta (conhecida como Deserta), Culatra, Armona, Tavira e Cabanas — e duas penínsulas, do Ancão e de Cacela, que, como o nome indica, formam uma barreira entre o mar e a Ria Formosa, no Algarve. Este sistema, com mais de 18.000 hectares, é um importante refúgio para algumas aves marinhas, cuja estrutura “está constantemente a ser redefinida” pelos agentes naturais de dinâmica costeira.
A ilha Deserta, no concelho de Faro, é “o único local” do país onde nidifica a gaivota-de-audouin, sendo que as restantes ilhas albergam, igualmente, populações importantes de andorinha-chilreta, ilustrou Joana Andrade. O LIFE Ilhas Barreira irá estudar “o estado das populações destas espécies”, bem como a dinâmica entre as gaivotas e as dunas, bem como avaliar a “necessidade de medidas de conservação”, referiu a bióloga.
As capturas acidentais de aves em artes de pesca é outra das preocupações do projecto, que “vai procurar trabalhar com os pescadores” para testar soluções que permitam evitá-las. O objectivo é avaliar o impacto destas capturas e perceber, por exemplo, como este problema está a afectar uma das espécies de aves criticamente ameaçadas na Europa, a pardela-balear.
As espécies invasoras são consideradas uma das maiores ameaças à biodiversidade e, por isso, pretende-se fazer um controlo de algumas plantas, como o chorão e a acácia, para que as dunas possam ter as espécies nativas destes habitats.
No final dos quatro anos do projecto, que envolve 25 especialistas, pretende-se perceber quais as melhores técnicas para “recuperar as dunas” onde seja necessário e caracterizar toda a vegetação das várias ilhas. Outro dos propósitos é ter uma “melhor informação sobre as populações nidificantes” da gaivota-de-audouin, da qual “ainda se sabe muito pouco”, acrescentou.
Joana Andrade adiantou que estão programadas “centenas de actividades” com escolas e a instalação de câmaras para que alguns dos ninhos possam ser seguidos em directo, “aproximando as pessoas dos valores naturais que caracterizam as ilhas barreira”. O director regional do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no Algarve, Joaquim Castelão Rodrigues, afirmou à Lusa que este é mais um projecto que vem “acrescentar conhecimento científico”, envolvendo a sociedade civil na “salvaguarda e protecção dos valores naturais na Ria Formosa”.