Mas porquê agora este eufemismo - pontos de contacto do PS com o PSD

Se o PS for por esse caminho de “contatos” com o PSD é natural que acabe incontactável para as esquerdas e regresse ao seu curso normal, agarrado aos contactos, construindo o centrão. Voltará o velho PS.

Não há ninguém que não tenha presente que no Parlamento há quase sempre pontos de contacto entre as várias propostas dos diferentes partidos. Sempre houve e vai continuar a haver. Branco é, galinha o pôs. Assim sendo o que fez a líder do grupo parlamentar do PS vir a terreiro garantir (quase a pés juntos) que entre o PS e o PSD terá de haver pontos de contactos?

A alta dirigente do PS parte do princípio que agora o PSD está estabilizado e que …“nós sabemos que o PSD esteve sempre com o PS, ou que estivemos em posições diferentes, mas muito próximas … E até nas questões estruturais do país”… No PÚBLICO do dia 30.01.2020 está lá pretinho no branco que tem de haver, vai haver pontos de contacto porque o PSD esteve sempre com o PS, ou próximo, até nas questões estruturais.

Nesse dia, António Costa num encontro com os deputados do PS, zurzia nos parceiros da “gerigonça” porque querem tudo num dia e o PS não pode dar tudo nesse prazo. Convém recordar que, apesar do PS se ter esfarrapado para obter uma maioria absoluta, o povo português não lha deu. Ora não a tendo dado, o PS tem de fazer opções de acordo com o que considera ser o seu programa.

Na campanha eleitoral fartou-se de elogiar a equipa vencedora, atacando o PSD e a direita. Isto foi o ponto forte da campanha - contido no pedido da maioria absoluta do género, nós queremos, mas não o dizemos, vocês já perceberam, se nos derem vão ser tudo rosas.

Mas não teve maioria absoluta. O caminho seria a consolidação e o reforço do anterior, e não um parênteses para voltar aos pontos de contacto até nas questões estruturais com o PSD.

O PS não precisaria de justificar os supostos “exageros” das esquerdas para abraçar os “pontos de contactos”. Para tanto basta-lhe a volta ao passado nesta legislatura – sossegar Bruxelas, voltar aos carris do centrismo, virar-se para a direita que diz ser o centro e o PS que se diz esquerda abraça o mesmo centro que é onde todos os do “sistema” querem estar a empurrar-se ver quem fica com mais lugares.

O PS e António Costa tiveram a virtude (vale uma vénia) de acabar com o muro que impedia acordos com os partidos da esquerda. Mas parece cansado por esses quatro anos de negociações com vista a que o povo português tivesse melhores condições de vida e o recuperasse rendimentos que o PSD/CDS lhe retirou.

Paradoxalmente olha agora para o velho PSD, sempre em pé de guerra, e vê-o estabilizado e pronto para os tais contactos até em questões estruturais.

Se o PS for por esse caminho de “contatos” com o PSD é natural que acabe incontactável para as esquerdas e regresse ao seu curso normal, agarrado aos contactos, construindo o centrão. Voltará o velho PS. Acabará por perder o que ganhou e resultou do acordo à esquerda. Sempre que fez acordos com a direita perdeu.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

   

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