Auschwitz: único e realizável
Olhemos para nós próprios, 75 anos depois de Auschwitz. E não pretendamos que, por comemorarmos mais este aniversário, aprendemos as lições devidas.
27 de janeiro de 1945, meio-dia. Quatro soldados soviéticos a cavalo chegam a Auschwitz. Foram precisos dias de combate e muitos mortos para conseguir a libertação dos três campos (Auschwitz-1, Birkenau e Monowitz) e dos vários subcampos de trabalho escravo em seu redor. Primo Levi, então com 24 anos, viu-os “aproximar-se do arame farpado, detiveram-se, trocando palavras breves e tímidas, lançando olhares trespassados por um estranho embaraço, para observar os cadáveres decompostos, os barracões arruinados, e os poucos vivos”. “[Os soldados] pareciam sufocados, não somente por piedade, mas por uma confusa reserva que selava as suas bocas e subjugava os seus olhos perante os cadáveres dispersos (...) e nós, os raros sobreviventes. Era a mesma vergonha que bem conhecíamos, que nos esmagava após as seleções [de prisioneiros para as câmaras de gás], e todas as vezes que devíamos assistir ou suportar um ultraje.” (Primo Levi, A trégua, 1963)
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