Pianos siameses, mímica e filmes de Chaplin: a dança sonhada de Tânia Carvalho
Enquanto concluía que os sonhos e a criação obedecem a lógicas semelhantes, a coreógrafa deu corpo a Onironauta, em estreia na Culturgest, em Lisboa, desta quinta-feira até domingo. Em Fevereiro e Março passará ainda por Guimarães, Porto e Viseu.
Estão dois pianos num palco praticamente despido. Colocados frente a frente, como se fossem não tanto um espelho mas pianos siameses. Um deles está ocupado por alguém de cabelos compridos, vestido branco batido e gasto, de costas para o público. Toca alguns compassos de música identificável com Chopin, pára e toma algumas notas na partitura. A atenção de uma figura que se adivinhará ser a de Tânia Carvalho, coreógrafa que há muito traz pianos para as suas criações, será desviada no momento em que um ser agachado invade o palco, como se fosse um bicho rastejante saído do escuro numa estranheza de aparição fugaz, para logo depois vermos uma segunda figura de cabelos compridos e vestido branco manchado e inquietante, avançando a passo lento até ao piano vazio. Afinal, esta sim é Tânia Carvalho, enfim sentada de frente para o seu gémeo André Santos e para o público. E os dois desatam na interpretação de uma peça minimal-repetitiva (ao jeito de Philip Glass) em uníssono, como se dessem início a um concerto e não a um espectáculo de dança.
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