Em Miranda do Douro, há uma fábrica que produz canivetes há 150 anos
Uma aldeia de Miranda do Douro ganhou um canivete quase com o mesmo nome, o Palaçoula. A Filmam passou de geração em geração e agora exporta para 34 países.
Em 150 anos, a Filmam produziu cerca de sete milhões de canivetes. Quase todos do modelo Palaçoula, que rouba o nome de Palaçoulo, a aldeia no concelho de Miranda do Douro a partir de onde a empresa de cutelarias de cariz familiar já exporta para 34 países.
A Filmam é uma empresa cuja fundação remonta a 1870, pelas mãos de um ferreiro, passando a tradição de geração em geração. Chegou ao século XXI dotada de tecnologia de ponta, mantendo, porém, um pouco da sua linha mais convencional, “com uma forte e enraizada implantação no mercado das cutelarias”. “O nosso tetravô era ferreiro de profissão, e, para além de fazer utensílios para a lavoura, demonstrava muito jeito para fazer facas, tendo começando por fabricar a famosa Palaçoula”, explicou à Lusa José Martins, um dos sócios gerentes da Filmam. “Em 1968, ano em que se assinalava os 98 anos do início da laboração, a chegada da electricidade a Palaçoulo permitiu-nos alargar horizontes e começámos a comprar máquinas eléctricas. Também inventamos algumas, automáticas ou semiautomáticas, que ainda hoje estão ao serviço dos produtos que fabricamos”, frisou o empresário.
Para além de uma dúzia de máquinas mais antigas, a empresa do distrito de Bragança tem vindo a adaptar-se às novas realidades industriais, tendo apostado em máquinas informatizadas e robotizadas para fabricar um vasto naipe de modelos de peças de cutelaria que, actualmente, fazem parte do catálogo da empresa transmontana. Não esconde que no negócio há altos e baixos. Contudo, a exportações dos produtos tem ajudado a contornar “alguma crise” que viveu num passado recente. O principal mercado da Filmam é o espanhol, mas na lista há países como o Dubai, Qatar, Rússia, EUA, França, Alemanha, França ou os Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
“Exportamos para 34 países. Estamos a apostar em exportações internacionais, como foi caso recente de uma para Las Vegas, nos Estados Unidos da América, de forma a conquistar os mercados mais emergentes com produtos de qualidade”, exemplificou José Martins. “Estamos certos que daria para ir mais além nas exportações, mas não estamos com ideias de o fazer. Pretendemos concentrar-nos nos mercados que temos e servi-los com qualidade” observou.
Com as novas vias de comunicação que rasgam o território, como o Itinerário Complementar IC5, a auto-estrada A4 e o túnel do Marão, “houve uma quebra no isolamento do Planalto Mirandês”. “A abertura destas novas rodovias, para nós, foi uma mais-valia, já que os nossos principais fornecedores de matéria-prima são da área do Porto”, enfatizam os sócios gerentes da Filman.
Para assinalar os 150 anos do início da laboração da empresa, lançaram um novo produto no mercado.“Dada a importância da empresa no mercado nacional e internacional das cutelarias, lançámos um modelo próprio, para assinalar a efeméride. Trata-se de um canivete que é diferente de todos outros, revestido a titânio, e o cabo em madeira de oliveira, com um sistema de segurança. Não há dois exemplares iguais”, assegurou o cuteleiro.
Os empresários, em tempo de aniversário, aproveitam para solicitar ao Governo mais apoios e pedem descriminação positiva para as unidades fabris do interior. “Os apoios nunca são de mais para quem trabalha neste território de baixa densidade”, disseram. A fábrica de cutelarias actualmente tem 20 operários, alguns com “muitos anos de casa”.
“Trabalho nesta fábrica há 40 anos e tenho notado muitas alterações tecnológicas e a produção tem vindo a aumentar. Há uma forte aposta tecnológica e não noto que haja quebra de emprego”, contou Jacinto Afonso, o funcionário mais antigo da Filmam. Actualmente, a capacidade de laboração da unidade fabril chega às 2500 peças por dia, de vários modelos, para uma facturação anual, que ronda um milhão de euros.